As Leis da Atração
A frase "houve uma química entre nós" pode ter um sentido bastante mais literal do que aquele com o qual se habituou a olhá-lo. Estrogénio, testosterona, dopamina, serotonina, norepinefrina e adrenalina: eis uma grande parte da explicação para o que está a acontecer no seu corpo e no seu cérebro quando se sente atraído por alguém. De certa forma, é uma experiência semelhante a estar sob a influência de certas drogas. Porque na realidade, está mesmo.
Provavelmente quase todos os dias conhece pessoas novas, cruza-se diariamente em todos os locais que frequenta com centenas de pessoas. Porque é que umas lhe são indiferentes e outras despertam o seu interesse e a fazem sentir-se atraída por elas? Provavelmente já pensou sobre isto e pergunta-se o que será que essas pessoas têm de especial, mas na realidade essa é uma pergunta incompleta... A questão correta é: o que é que a atração por uma determinada pessoa diz sobre si.
A resposta começa no universo dos sentidos, afinal são eles que nos permitem o contacto com tudo e todos à nossa volta, como refere o psicólogo e sexólogo Fernando Mesquita. E, como explica, privilegiamos por norma os sentidos da distância, considerados nobres – ver e ouvir –, enquanto aqueles que exigem proximidade (o gosto, o olfato e o tato) foram classificados como inferiores. "Os outros têm o direito a me ver e ouvir, mas não têm o direito de me saborear ou cheirar a menos que eu queira. Mas se temos uma relação amorosa não basta ver e ouvir, queremos acima de tudo cheirar, saborear, tocar e acariciar", conclui o sexólogo. Quer isso dizer que a atração é marcada por tudo isso que nos é agradável: o que vemos, ouvimos, cheiramos, saboreamos e tocamos.
Por fim, também a β-feniletilamina, uma hormona conhecida como a "anfetamina do amor", cumpre o seu papel neste cocktail bioquímico dentro de nós: é uma hormona que "faz desaparecer bloqueios, inibições e censuras e provoca o aumento da produção de dopamina [libertada em situações de prazer]. Este neurotransmissor também é, em certa parte, responsável pelo estado de euforia vivido na fase de paixão", refere o sexólogo.
As Nuances da atração
Já esta "matemática hormonal" feminina sofre alterações ao longo do mês, acompanhando a fase do ciclo menstrual. Os níveis hormonais de estrogénio, progesterona e testosterona sobem e descem drasticamente ao longo do mês. As consequências práticas destas alterações de valores refletem-se também naquilo que chama a atenção da mulher: os investigadores referem que do primeiro ao quinto dia do ciclo a mulher está menos disponível para sexo, razão pela qual se fizer escolhas sobre um parceiro, estas vão tender para o homem pacato e com feições suaves. Do quinto dia para a frente, os níveis de estrogénio e de testosterona começam a aumentar e, no período de ovulação, a partir do 14º dia, são os homens com um ar mais másculo e feições marcadas, como o queixo proeminente, que dominam a atenção feminina.
Será então justo afirmar que, no campo da química, nada é controlado pela nossa racionalidade e são as hormonas que mandam em nós? Felizmente, não. Muito embora na fase da paixão percamos um pouco a capacidade de pensar racionalmente (daí que seja tão difícil ver defeitos no outro quando estamos apaixonados), não somos guiados apenas por instintos, até porque algures no nosso subconsciente existe, para cada um de nós, um modelo já construído daquele que será o parceiro ideal.
Como nos explica o psicólogo e sexólogo Fernando Mesquita, como seres racionais que somos, os nossos comportamentos e decisões não se limitam a questões bioquímicas. "Está comprovado que, apesar de toda a importância da dita 'química', as vivências prévias e os fatores psicológicos são um fator determinante na seleção do (ou da) 'tal'", conclui o sexólogo. No fundo, remata, Fernando Mesquita, apesar do amor produzir reações químicas cerebrais específicas, a ligação afetiva entre duas pessoas não se limita exclusivamente a consequências biológicas.
Da Atração ao Amor, do Amor a Atração
"Passada a fase de excitação, instala-se no cérebro um estado chamado de 'euforia-dependência', cuja presença da pessoa amada proporciona alegria interior e serenidade, e que se torna cada vez mais indispensável", explica Fernando Mesquita. De acordo com o sexólogo, quem ama, vive "drogado" de endorfina (morfina produzida pelo próprio corpo). "Mas, ao contrário do que acontece com os toxicómanos que precisam de doses cada vez maiores de morfina, o nosso organismo tem um limite na produção de endorfinas. E é neste ponto que alguns casais acabam a relação pois a quantidade de endorfinas produzida deixa de ser suficiente para saciar esta dependência", conclui. Como contrariar então esta quebra e acender o desejo nas relações de longa duração?
A terapeuta sexual e investigadora Esther Perel dedica-se há vários anos a estudar questões relacionadas com o desejo, amor e erotismo, sobretudo nas relações de longa duração. "Porque é que o amor e a intimidade não garantem bom sexo?", "Podemos querer aquilo que já temos?" ou "Porque é que aquilo que é proibido é tão erótico?" são algumas das perguntas de partida da sua investigação.
Mas, afinal, porque é tão difícil manter o desejo e o erotismo nas relações de longa duração? Esther Perel defende que na origem desta dificuldade está o desafio de conciliar duas necessidades humanas muito diferentes: a segurança, estabilidade e previsibilidade das quais precisamos e que são próprias de uma relação duradoura e de confiança e, por outro lado, a necessidade de aventura, novidade e mistério, características do desejo e do início de relação.
Porque, na verdade, muitas vezes, os ingredientes que alimentam o amor - como a responsabilidade e a preocupação - são os mesmos que matam o desejo. A investigadora concluiu que os casais que, passado décadas, ainda mantém a paixão e o erotismo na sua relação são aqueles que mantém alguma privacidade e espaço individual; que entendem que os preliminares não algo que é feito cinco minutos antes do sexo, mas antes uma coisa que começa logo no fim do orgasmo anterior; que entendem que a paixão, como a lua, tem fases, não é constante e aceitam isso, mas sabem como a trazer de volta porque abandonaram o mito da espontaneidade e sabem que a vida sexual exige presença, foco e intencionalidade.
Espero que tenham gostado :)
Meggz
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