quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Pelos Caminhos do Mundo

Na cidade de Lisboa...

Aqueduto das Águas Livres


É um complexo sistema de captação, adução e distribuição de água à cidade de Lisboa, e que tem como obra mais emblemática a grandiosa arcaria em cantaria que se ergue sobre o Vale de Alcântara, um dos bilhetes postais de Lisboa.
Aqueduto das Águas Livres

Desde que as populações começaram-se a instalar na região de Lisboa, que a escassez de água potável foi uma constante. Apesar da existência de um rio no local, o Tejo, a sua água era e é imprópria para consumo, pois a ampla foz do rio faz com que a água seja contaminada pelo mar, tendo por isso níveis de salinidade inadequados.
Rio Tejo

A única área de Lisboa com nascentes de água era o Bairro de Alfama. Com o crescimento da cidade para fora das cercas medievais foi-se instalando uma situação de défice crónico no abastecimento de água. Foi ganhando força a ideia de aproveitar as águas do vale da ribeira de Carenque, na região de Belas. Estas águas foram primeiramente utilizadas pelos romanos, que aí haviam construído uma barragem e um aqueduto.
Bairro de Alfama

Em 1571, Francisco de Holanda propõe a D. Sebastião na sua obra Da Fábrica que Falece à Cidade de Lisboa que estabelecesse uma rede de abastecimento de água que servisse a cidade de Lisboa, rede essa que já tinha sido iniciada pelos romanos.
Rei D. Sebastião de Portugal
Exemplo da traça de Francisco Holanda em Da Fábrica que Falece a Cidade de Lisboa "Lembrança para reedificar a ponte de Sacauem"

Os vestígios do aqueduto romano eram ainda suficientes para que tivessem sido considerados, em 1620, para a passagem das Águas Livres de Lisboa. Anos mais tarde, D. Filipe II instituiu o Real da Água, um imposto sobre a carne e vinho que tinha como objetivo principal o financiamento das obras de construção do sistema de abastecimento de água para a capital. Porém, o projeto não foi sequer iniciado, tendo o dinheiro angariado por esse imposto ter sido utilizado para ajudar os pobres e doentes.
Rei D. Filipe II de Portugal

Preocupado com a falta de água, o Procurador da Cidade, em 1728, estabeleceu, à semelhança de D. Filipe II, uma taxa sobre a carne, vinho, azeite e outros produtos alimentares com o intuito de arranjar financiamento para a construção do Aqueduto.

Um ano depois, em 1729, foram nomeados três homens para a elaboração do plano de construção do sistema que incluiria a construção de um troço monumental do aqueduto sobre o Vale de Alcântara. Os três homens eram António Canevari, arquiteto italiano, o Coronel Engenheiro Manuel da Maia e João Frederico Ludovice, arquiteto alemão.
Coronel Engenheiro Manuel da Maia
Arquiteto João Frederico Ludovice

Em 1731, o Alvará Régio do Rei D. João V ditou o início do projeto. Um ano depois, Canevari é afastado da direção do empreendimento, tendo sido substituído por Manuel da Maia. Este orientou o traçado que o aqueduto deveria seguir desde a nascente até à cidade.
Rei D. João V de Portugal

Passados cinco anos do Alvará Régio, e as obras ainda não tinham sequer sido iniciadas. Manuel da Maia, foi substituído por Custódio Vieira. As obras começaram muito lentamente devido a atritos com os mais altos responsáveis pela obra.

Em 1740, começou a ser construído o troço mais conhecido e mais visível do aqueduto. Quatro anos depois, em 1744, é finalizado o Arco Grande, e morre Custódio Vieira. A obra passou a ser dirigida pelo húngaro Carlos Mardel.
Placa de Arco Grande
Carlos Mardel

Em 1748, com a finalização dos 12 arcos de volta perfeita das Amoreiras, o aqueduto ficou terminado, transportando diariamente cerca de 1300 m3 de água, três vezes mais que a oferta original.
Postal do Aqueduto das Águas Livres

Depois de ter entrado em funcionamento, em 1748, toda uma nova rede de chafarizes e fontes foi construída na cidade, alimentados por gravidade, como por exemplo, o Chafariz da Esperança. Desde logo, também a capacidade do aqueduto foi aumentada devido às crescentes necessidades de água potenciadas pelo crescimento demográfico da cidade.
Chafariz da Esperança

O caminho público por cima do aqueduto, esteve fechado desde 1853, em parte devido aos crimes praticados por Diogo Alves (o Pancadas), um criminoso que lançava as suas vitimas do alto dos arcos depois de as roubar, simulando um suicídio, e que foi enforcado, sendo o último condenado à morte em Portugal.
Cabeça de Diogo Alves guardada em formol na Faculdade de Medicina de Lisboa

Em 1880, a importância do aqueduto diminuiu bastante devido ao início da exploração das águas do Alviela, através do Aqueduto do Alviela que levava a água até ao reservatório dos Barbadinhos onde a água era elevada com máquinas a vapor, alimentando Lisboa de água potável.
Aqueduto de Alviela

O aqueduto manteve-se porém em funcionamento de 1967, tendo sido definitivamente desativado pela Companhia das Águas de Lisboa em 1968.

Atualmente é possível fazer um passeio guiado pela arcaria do vale de Alcântara. Também é possível, ocasionalmente, visitar o reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras, o Reservatório da Patriarcal e troços do aqueduto geral na região de Belas e Caneças.
Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras

Entrada do Reservatório da Patriarcal.

O aqueduto tem início na Mãe d'Água Velha, que recolhia a água da nascente da Água Livre, em Belas, e termina no Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras após um percurso de 14 174 metros.

Mary Sweet

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