A Evolução do Automóvel
No século XVII idealizavam-se os veículos impulsionados a vapor. Ferdinand Verbiest, um padre da Flandres, demonstrou em 1678 ao conceber um carro a vapor para o Imperador da China.
Em 1769, Nicolas-Joseph Cugnot elevava a demonstração à escala real, embora a sua aplicação tenha passado aparentemente despercebida, no seu país, na França, passando a desenvolver-se sobretudo no Reino Unido, onde Richard Trevithick montou um vagão a vapor em 1801.
Este género de veículos foram populares durante algum tempo, sofrendo ao longo das décadas seguintes alterações como o freio de mão, caixa de câmbio, e ao nível da velocidade e direção.
Alguns exemplares atingiram o sucesso comercial, contribuindo significativamente para a generalização do tráfego, até que uma reviravolta contra este movimento resultou em algumas leis restritas no Reino Unido, que obrigavam os veículos automóveis a serem acompanhados por um homem a pé acenando uma bandeira vermelha e soprando uma corneta.
Estas medidas travaram o desenvolvimento do automóvel do Reino Unido até aos finais do século XIX, entretanto, os inventores e engenheiros desviavam os seus esforços para o desenvolvimento dos caminhos-de-ferro, as locomotivas. A lei da bandeira vermelha só seria eliminada em 1896.
Experiências isoladas, realizadas em toda a Europa, ao longo das décadas de 1860 e 1870, contribuíram para o aparecimento de algo semelhante ao automóvel atual.
Uma das mais significativas invenções foi a de um pequeno carro impulsionado por um motor a quatro tempos, construído por Siegfried Markus, em Viena, em 1874.
Os motores a vapor, que queimavam combustível fora dos cilindros, deram lugar aos motes de combustão interna, que queimavam no interior do cilindro uma mistura de ar e gás de iluminação. O ciclo de quatro tempos foi utilizado pela primeira vez com êxito em 1876, um motor construído pelo engenheiro alemão Conde Nikolaus Otto.
A primeira patente do automóvel nos Estados Unidos foi concedida a Oliver Evans, em 1789. Mais tarde, em 1804, Evans demonstrou o seu primeiro veículo automóvel que não só foi o primeiro automóvel nos Estados Unidos, mas também o primeiro veículo anfíbio (aquele que possui a facilidade de se mover tanto em terra firme como em águas de rios, lagoas ou no mar), já que este veículo a vapor dispunha de rodas para circulação terrestre e de pás para circulação na água.
O belga Étienne Lenoir construiu um automóvel com o motor de combustão interna a cerca de 1860, embora fosse movido a gás de carvão. A sua experiência durou três horas para percorrer sete milhas, o que teria sido mais rápido fazer o percurso a pé, assim Lenoir abandonou as experiências com automóveis.
Os primeiros automóveis de combustão interna a gasolina surgiram quase simultaneamente através de vários inventores alemães, que trabalhavam independentemente. Karl Benz construiu o seu primeiro automóvel em 1885, em Mannheim, conseguindo a patente a 29 de janeiro do ano seguinte e iniciou a primeira produção em massa a 1888.
Pouco tempo depois, Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, em 1889 em Estugarda, concebiam um veículo de raiz, descartando a típica carroça em função de uma carroçaria específica dotada de motor.
Foram eles também que inventaram a primeira motocicleta em 1886.
Em 1885 eram construídos os primeiros automóveis de quatro rodas movidos a petróleo, em Birmingham, no Reino Unido, por Frederick William Lanchester, que também patenteou o travão de disco.
Os primeiros tempos de automobilismo não são fáceis para os condutores. A velocidade que os automóveis atingiam, cerca de 30 km/h, era considerado uma "coisa do diabo", o ruído que produziam assustava as pessoas e os animais.
A sua mecânica e acessórios eram de difícil utilização. Para pôr o motor em marcha, era necessário manobrar várias alavancas e abrir uma série de válvulas. A iluminação era feita através de lanternas ou faróis de carboneto. As rodas eram revestidas a borracha maciça, o que tornava as viagens mais desconfortáveis.
A forma destes veículos permitia apenas viajar em "cima deles" e não "dentro deles", o que obrigava ao uso de roupas especiais e adereços de proteção. No principio do século XX, conduzir um automóvel era uma prova de perseverança e resistência através da qual os seus proprietários demonstravam a sua perícia e espírito aventureiro.
A linha de produção em larga escala de automóveis a preços acessíveis foi lançada por Ransom Olds na sua fábrica Oldsmobile em 1902. Este conceito foi amplamente expandido por Henry Ford, com início em 1914.
Como resultado, os carros da Ford saiam em linha em quinze intervalos de um minuto, muito mais rápido do que os métodos anteriores, aumentando em oito vezes a produtividade, que requeriam 12,5 horas-homem antes, depois passou a 1 hora e 33 minutos, utilizando menos recursos humanos.
A pintura era somente de cor "Negro Japonês" porque secava rápido o suficiente, forcando a empresa a deixar a variedade de cores disponíveis antes de 1914, até quando o verniz Duco de secagem rápida foi desenvolvido em 1926. A Ford tinha uma espécie de lema "Qualquer cor, desde que seja preto".
Em 1914, um trabalhador de linha de montagem poderia comprar um Modelo T com o pagamento de quatro meses. Os complexos procedimentos de segurança da Ford, especialmente atribuindo a cada trabalhador um local específico em vez de lhes permitir andar pela fábrica, reduziu drasticamente o número de lesões. Esta combinação de altos salários e alta eficiência é chamado de "fordismo", e foi copiado pela maioria das grandes indústrias.
1905/1919, os primeiros automobilistas demonstravam a sua capacidade de resistência e a eficiência das suas máquinas realizado "excursões" com os seus automóveis. Nestas viagens, surgem problemas mecânicos e dificuldades relacionadas com a pouca funcionalidade dos veículos. A procura de soluções para estas falas traz melhorias técnicas e formais, das quais se destacam a invenção do motor de arranque e a iluminação eléctrica.
Nas décadas de 1920/1930, as alterações económicas e sociais resultantes da I Guerra Mundial são terminantes para o desenvolvimento do automóvel.
Os melhoramentos técnicos e formais são relevantes, as carroçarias, constituídas por uma estrutura de madeira revestida com painéis de aço, são cada vez mais baixas e rentes ao chão.
Nas décadas de 20/30, o automóvel generaliza-se e torna-se muito popular. Ao mesmo tempo, atinge a expressão máxima do luxo e do requinte. Marcas como a Rolls Royce, Bentley, Hispano-Suiza, Bugatti, Delage, Stutz, Dusenberg, entre outras, constroem carros de grande qualidade, sendo as luxuosas carroçarias executadas por empresas especializadas ao gosto de cada cliente. Estes são os famosos carros, que nos "loucos anos 20", impressionavam fortemente o cidadão comum.
A década de 1930 ficou marcada por fortes perturbações económicas, políticas e sociais. Com o objetivo de reduzirem os preços, os construtores de automóveis diminuem o número de modelos construídos e prologam o tempo das séries. Desaparecem as marcas de pequena dimensão.
A Citroën lança no mercado a famosa sério 7 CV, que fica conhecida em Portugal como "arrastadeira". Este modelo comprovava a possibilidade de produzir uma série de automóveis inovadores e de qualidade. Possuía tração dianteira, suspensões independentes com barras de torção, travões hidráulicos e uma estrutura monobloco toda em aço. A sua forma, de linhas baixas, conferia-lhe estabilidade e adesão à estrada.
Símbolo de modernidade e bem-estar, o automóvel transforma-se numa imagem de evolução tecnológica para as nações que os produzem. As grandes potências europeias, como a Alemanha, a Itália, a França e a Grã-Bretanha, debatiam-se pelos primeiros lugares nas provas automobilistas e conferiam à indústria automóvel um carácter fortemente nacionalista.
A Europa do pós-II Guerra Mundial encontrou na indústria automóvel um fator de desenvolvimento económico. Mascas como a FIAT na Itália, a Volkswagen na Alemanha, a Citroën, Peugeot e Renault na França, Austin e Morris na Inglaterra, contribuíram decisivamente para relançar os seus países na economia mundial.
Renault 4 CV de 1948 |
Morris de 1948 |
O VW "carocha", o 2CV, o Renault 4, o Fiat 600 e o 500, o Morris Minor, são exemplos de modelos utilitários de sucesso.
Nos Estados Unidos da América, resultado do boom económico da época, os automóveis eram cada vez maiores, mais confortáveis e luxuosos, consumindo grandes quantidades de combustível.
As inovações destacavam-se os acessórios e o design, associado à ideia de styling, uma interpretação exagerada de aerodinâmica. Os famosos "rabos de peixe" de cores alegres transformaram-se num dos símbolos do estilo de vida americano.
Nos anos 60, época de estabilidade económica - o pleno emprego, o aumento do nível de vida e o consequente apelo ao consumo contribuíram decisivamente para a massificação do automóvel.
A conceção e produção de pequenos veículos utilitários atingem o auge, automóveis como os Morris/ Austin Mini e os Fiat 600 e 500 eram fabricados aos milhares.
Na década de 70, começaram a surgir as grandes preocupações com a segurança dos passageiros e com a crescente poluição atmosférica provocada pelos gases emitidos pelo escape. O automóvel uniformizou-se, tanto no seu aspeto exterior como no preço, potência e dimensão. A era da evolução espontânea da indústria automóvel tinha chegado ao fim.
A indústria automóvel, através da publicidade, acompanha, altera e alimenta as mudanças socioeconómicas do século XX.
Anúncio de 1926 |
Anúncio de 1903 |
Anúncio de 1913 |
Anúncio de 1928 |
Anúncio de 1955 |
Portugal
Em Portugal o primeiro automóvel a chegar foi um veículo da Panhard & Levassor tendo sido importado de Paris pelo 4.º Conde de Avilez, em 1895.
O primeiro automóvel em Portugal do 4.º Conde de Avilez, em 1895 |
A Panhard & Levassor foi fundada por René Panhard e Émile Levassor. Estes dois homens utilizavam o motor desenvolvido por Daimler e criaram automóveis com motor dianteiro e tração às rodas traseiras. Esta empresa foi uma das primeiras a fabricar automóveis com fins comerciais, tendo publicado o primeiro catálogo a cores.
Na alfândega de Lisboa, ao decidirem a taxa a aplicar, hesitaram entre considerar aquele estranho objeto máquina agrícola ou máquina movida a vapor, acabando por se decidir pela segunda opção.
Este veículo ficaria também para a história por um acontecimento insólito, logo na sua primeira viagem, entre Lisboa e Santiago do Cacém, ocorreria o primeiro acidente de viação em Portugal, tendo por vítima um burro, atropelado a meio do percurso.
O Rei D. Carlos e o Infante D. Afonso são grandes impulsionadores de atividades e associações ligadas ao automobilismo, como o Real Automóvel Club de Portugal.
O I Salão Automóvel, em Portugal, realiza-se na cidade do Porto, no ano de 1914. A ideia para a sua organização surge em 1913, após a realização do primeiro "Circuito do Minho". No final desta prova desportiva, os veículos que nela participam são expostos na nave central do antigo Palácio de Cristal do Porto.
Esta iniciativa teve um enorme sucesso, a grande afluência de público entusiasma os organizadores da prova, que convidam o gerente do Palácio de Cristal e o Automóvel Club de Portugal a organizar uma exposição anual de marcas de automóveis.
A eclosão da Primeira Guerra Mundial, em 1914, vem impedir a realização do evento nos anos que se seguiram. A partir de 1922, e até ao início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, o Salão Automóvel do Porto era organizado quase todos os anos no Palácio de Cristal. Estas exposições de automóveis contribuíram para a divulgação do automóvel como meio de transporte.
Na década de 1950, a Fábrica de Produtos Estrela desenvolve projetos para a produção de automóveis populares e de competição, assim como carroçarias de autocarros. Apenas estes dois últimos viriam a ser produzidos.
Hoje em dia, a industria nacional está perfeitamente consolidada destacando-se em particular, a contribuição da AutoEuropa com um volume de produtos e uma percentagem determinante no fluxo de exportações.
Anúncio da Fábrica de Produtos Estrela |
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