quarta-feira, 23 de julho de 2014

Gente Importante

94 Anos de Amália Rodrigues

Amália da Piedade Rodrigues nasceu em Lisboa a 1 de julho de 1920, no entanto só foi registada a 23 de julho. Amália celebrava o seu aniversário a 1 de julho.
Amália Rodrigues
Filha de Albertino de Jesus Rodrigues, um músico e sapateiro e da sua mulher, Lucinda da Piedade Rebordão.

Revelou cedo o seu talento como cantora, mas tímida. Começou a cantar para o avô e vizinhos, que lhe pediam. Na sua infância e juventude, cantarolava tangos de Carlos Gardei e canções populares que ouvia e lhe pediam para cantar.

Aos 9 anos, a avó, analfabeta, manda Amália para a escola. Contudo, aos 12 anos tem que interromper a sua escolaridade como era frequente nas casas pobres. Escolheu ser bordadeira, mas depressa muda para ir embrulhar bolos.
Amália Rodrigues
Aos 14 anos decide ir viver com os pais, pois desde pequenina vivia com os avós, que entretanto tinham regressado a Lisboa. Mas a vida não era tão boa como em casa dos avós. Amália tinha que ajudar a mãe e aguentar o irmão mais velho, autoritário.

Aos 15 anos vai vender fruta para a zona do Cais da Rocha, e torna-se notada devido ao especialíssimo timbre de voz. Integra a Marcha Popular de Alcântara, nas festividades de Santo António em Lisboa, de 1936.
Amália Rodrigues
O ensaiador da Marcha insiste para que Amália se inscreva numa prova de descoberta de talentos, chamada "Concurso da Primavera", em que se disputava o título de "Rainha do Fado". Amália acabaria por não participar, pois todas as outras concorrentes se recusavam a competir com ela.

Conhece nessa altura o seu futuro marido, Francisco da Cruz, um guitarrista amador, com o qual se casou em 1940. Um assistente recomenda-a para a casa de fados mais famosa de então, o Retiro da Severa, mas Amália acaba por recusar esse convite, e depois adiar a resposta, e só em 1939 iria cantar a essa casa.

Estreia-se no teatro de revista em 1940, como atração da peça "Ora Vai Tu", no Teatro Maria Vitória. no meio teatral encontra Frederico Valério, compositor de muitos dos seus fados.

Em 1943 divorcia-se a seu pedido. Torna-se então independente. Neste mesmo ano atua pela primeira vez fora de Portugal, a convite do embaixador Pedro Teotónio Pereira, canta em Madrid.

Em 1944 consegue um papel proeminente, ao lado de Hermínia Silva, na opereta "Rosa Cantadeira", onde interpreta o "Fado do Ciúme", de Frederico Valério. Em setembro, chega ao Rio de Janeiro acompanhada pelo maestro Fernando de Freitas para atuar no Casino Copacabana.
Amália Rodrigues
Aos 24 anos, Amália já tem um espetáculo concebido em exclusivo para ela. A receção é de tal forma entusiástica que o seu contrato inicial de quatro semanas se prolonga por quatro meses, é convidada a repetir a tour, acompanhada de bailarinos e músicos.
Amália Rodrigues
É no Rio de Janeiro, que Frederico Valério compõe um dos mais famosos fados de todos os tempos "Ai Mouraria", estreado no Teatro República. Grava discos, vendidos em vários países, motivando grande interesse das companhias de Hollywood.

Em 1947 estreia-se no cinema com o filme "Capas Negras", o filme mais visto em Portugal até então, ficando 22 semanas em exibição. Um segundo filme, do mesmo ano, é "Fado, História de uma Cantadeira".

Amália é apoiada por artistas inovadores como Almada Negreiros e António Ferro. Esse que a convida pela primeira vez a cantar em Paris, no Chez Carrére, e a Londres, no Ritz, em festas do departamento de Turismo que o próprio organizava.

A internacionalização de Amália aumenta com a participação, em 1950, nos espetáculos do Plano Marshall, o plano de apoio dos Estados Unidos à Europa do pôs-guerra, em que participaram os mais importantes artistas de casa país.
Amália Rodrigues
Em Roma, Amália atua no Teatro Argentina, sendo a única artista ligeira num espetáculo em que figuram os mais famosos cantores de música clássica.

Em setembro de 1952 a sua estreia em Nova Iorque fez-se no palco do La Vie en Rose, onde ficou 14 semanas em cartaz. Ainda nos Estados Unidos, em 1953 canta pela primeira vez na televisão, na NBC, no programa de Eddie Fisher patrocinado pela Coca-Cola, que teve de beber e de que não gostara nada. Grava discos de fado e de flamenco. Convidam-na para ficar, mas não fica porque não quer.

Amália dá ao fado um fulgor novo. Canta o repertório tradicional de uma forma diferente, num sincretismo do que é rural e do que é urbano. Canta os grandes poetas da língua portuguesa - Camões, Bocage; além dos poetas que escrevem para ela - Ary dos Santos, O'Neill, entre outros.
 Amália Rodrigues
O seu "Fado de Peniche" é proibido por ser considerado um hino aos que se encontram presos em Peniche, Amália escolhe também um poema de Pedro Homem de Mello "Povo que Lavas no Rio", que ganha uma dimensão política.
Amália Rodrigues
A 26 de abril de 1961, casa-se no Rio de Janeiro com o seu segundo marido, o engenheiro luso-brasileiro César Henrique de Moura de Seabra Rangel, com quem fica até à morte deste, em 1997.

Em 1966, o seu amigo Alain Oulman é preso pela PIDE, Amália dá todo o seu apoio ao amigo e tudo faz para que seja libertado e posto na fronteira.

Em 1970 é editado o álbum "Com Que Voz".
 Amália Rodrigues
No ano de 1974 grava o álbum "Encontro - Amália e Don Byas" com o saxofonista Don Byas.

Em 1976 é editado o disco "Amália no Canecão" gravado no Brasil. No mesmo ano é lançado o álbum "Cantigas da Boa Gente". "Fandangueiro" e "Cantigas numa Língua Antiga" são lançados em 1977.
 Amália Rodrigues
No ano de 1980 é lançado o disco "Gostava de Ser Quem Era". Em 1982 é lançado o "Máxi-single Senhor Extraterrestre" com dois temas de Carlos Paião. É editado o álbum "Amália Fado" com temas de Frederico Valério.

Em 1983 é editado o álbum "Lágrima" a que se segue "Amália na Broadway" em 1984.

Em 1985 obtém grande sucesso a colectânea "O Melhor de Amália: Estranha Forma de Vida". É lançado um novo volume "O Melhor de Amália, vol.2: Tudo Isto é Fado".

Ao mesmo tempo, atravessa dissabores financeiros que a obrigam a desfazer-se de algum do património. Ao longo dos anos que passam, vê desaparecer o seu compositor Alain Oulman, o seu poeta David Mourão-Ferreira e o seu marido, César Seabra, com quem era casada há 36 anos, e que morre em 1997.

Em 1997 é editado pela Valentim de Carvalho o álbum "Segredo" com gravações inéditas realizadas entre 1965 e 1975. É ainda publicado o livro "Versos" com os seus poemas. É-lhe feita uma homenagem nacional na Exposição Mundial de Lisboa - Expo 98.
Amália Rodrigues
Em abril de 1999, Amália desloca-se pela última vez a Paris, sendo condecorada na Cinemateca Francesa, pelos muito espetáculos que deu naquela cidade e, dever-se a ela o facto da França começar a apreciar o Fado. Já ligeiramente debilitada, agradeceu aos franceses o facto de se ter começado a projetar no mundo, pois era a partir da França que os seus discos começaram a espalhar-se.

A 6 de outubro de 1999, Amália Rodrigues morre, em sua casa, repentinamente, ao início da manhã, com 79 anos, poucas horas depois de regressar a casa das suas férias no litoral alentejano.
Funeral de Amália Rodrigues
Imediatamente, o então primeiro-ministro, António Guterres, decreta Luto Nacional por três dias. No seu funeral centenas de milhares de lisboetas descem à rua para lhe prestar uma última homenagem.

Foi sepultada no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Dois anos depois, a 8 de julho de 2001, o seu corpo foi transladado para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa.
Túmulo de Amália Rodrigues

Mary Sweet

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