sexta-feira, 27 de junho de 2014

Gente Importante

Rainha Vitória de Inglaterra

Nasceu em Londres a 24 de maio de 1819, no Palácio de Kensington, às 4h15 da manhã.
Rainha Vitória
Filha de Eduardo, Duque de Kent e Strathearn e de Vitória de Saxe-Coburgo-Saalfeld.
Eduardo, Duque de Kent e Stranthearn
Vitória de Saxe-Coburgo-Saalfeld, Duquesa de Kent
Foi batizada numa cerimónia privada a 24 de julho pelo arcebispo da Cantuária, Charles Manners-Sutton, no salão da cúpula no Palácio de Kensington. Os seus padrinhos foram o Czar Alexandre I da Rússia, o seu tio, Jorge IV do Reino Unido, a sua tia Carlota de Württemberg e a sua avó materna, Augusta Reuss-Ebersdorf.
Czar Alexandre I da Rússia
Jorge IV do Reino Unido
Carlota de Württemberg
Augusta Reuss-Ebersdorf
Os seus pais quiseram chamá-la Vitória Jorgina Alexandrina Carlota Augusta, mas o irmão mais velho do duque, o príncipe-regente, insistiu que três dos nomes fossem retirados. Então acabou por ser batizada apenas de Alexandrina Vitória, em honra do Czar Alexandre I e da sua mãe.
Rainha Vitória com apenas quatro anos
Vitória estava no quinto lugar de sucessão ao trono, a seguir ao seu pai e aos seus três irmãos mais velhos.
O príncipe-regente estava separado da sua esposa, a esposa do seu outro tio, o Duque de Iorque, a princesa Frederica Carlota da Prússia, tinha 52 anos, por isso não havia hipóteses de os filhos mais velhos do rei terem herdeiros.
Frederico, Duque de Iorque
Frederica Carlota da Prússia
O avô, Rei Jorge III do Reino Unido, e o pai de Vitória, morreram em 1820, com apenas uma semana de diferença e o Duque de Iorque, Frederico, morreu em 1827. Após a morte do então Rei Jorge IV em 1830, Vitória tornou-se herdeira presumível do seu tio Guilherme IV do Reino Unido.
Rei Jorge III da Inglaterra
Guilherme IV
O Acto de Regência de 1830 incluía uma cláusula especial que tornava a duquesa de Kent, mãe de Vitória, regente caso Guilherme morresse antes da princesa atingir a maioridade. O então Rei Guilherme desconfiava da capacidade da duquesa em ser regente e, em 1936, declarou na sua presença que queria viver até ao 18.º aniversário de Vitória para que fosse evitada uma regência.

Mais tarde, na sua vida, Vitória descrevia a sua infância como "bastante melancólica". A sua mãe era muito protetora e, por isso, teve uma educação isolada, longe de outras crianças da sua idade, seguindo o chamado "Sistema Kensington", um conjunto de regras e protocolos elaborados e desenvolvidos pela duquesa e o seu mordomo ambicioso e dominador, Sir John Conroy, que segundo alguns rumores era amante da duquesa, facto nunca confirmado.
Sir John Conroy
Duquesa de Kent com a filha a então futura Rainha Vitória
Este sistema impedia-a de se encontrar com pessoas que a sua mãe e Conroy considerassem indesejáveis. e estava direccionado no sentido de a tornar fraca e dependente deles. A duquesa evitava a corte pois chocava-a o facto de esta ser frequentada pelos filhos ilegítimos do rei (seu sogro).

Vitória partilhava o quarto com a sua mãe, estudava com tutores privados seguindo um horário regular e passava as suas horas de lazer a brincar com as suas bonecas e um King Charles Spaniel chamado Dash. Aprendeu francês, alemão, italiano e latim, mas falava inglês em casa.

Em 1836, o irmão da Duquesa, Leopoldo, tinha-se tornado Rei dos belgas em 1831, começou a fazer planos para casar a sua sobrinha Vitória com o seu sobrinho Alberto de Saxe-Coburgo-Gota.
Rei Leopoldo da Bélgica
Alberto de Saxe-Coburgo-Gota
Leopoldo, a mãe de Vitória e o pai de Alberto, o duque Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota, eram irmãos. Leopoldo convenceu a sua irmã a convidar os familiares de Coburgo para a visitarem em maio de 1836, com o objetivo de apresentar Vitória a Alberto.
Ernesto I de Saxe-Coburgo-Gota
Contudo Guilherme IV não aprovava nenhum tipo de união de membros da sua família com os Coburgos e teria preferido ver a sua sobrinha casada com o príncipe Alexandre dos Países Baixos, segundo filho do príncipe de Orange.
Príncipe Alexandre dos Países Baixos
Vitória sabia dos vários planos de casamento e dava a sua opinião sobre estes "arranjos" e segundo o seu diário, Vitória sempre gostou da companhia de Alberto. No fim da visita, escreveu "[Alberto] é extremamente bonito, o seu cabelo é da mesma cor do meu, os seus olhos são grandes e azuis e tem um lindo nariz e uma boca muito doce com bons dentes. Mas o charme do seu rosto é a sua expressão, que é muito agradável." Por outro lado, achava Alexandre "muito simples".
Rainha Vitória
Vitória tornou-se Rainha do Reino Unido. No seu diário escreveu: "Fui acordada às seis da manhã pela mamã que me disse que o Arcebispo da Cantuária e Lorde Conyngham estavam aqui e queriam ver-me. Sai da cama e fui até à minha salinha-de-espera (de camisa de dormir), sozinha, e vi-os. Lorde Conyngham informou-se depois que o meu pobre tio, o Rei, já não existia, e tinha dado o seu último fôlego doze minutos depois das duas da manhã e, consequentemente, sou Rainha."
Vitória recebe a notícia da sua ascensão ao trono
Documentos oficiais do seu primeiro dia de reinado referiam-se a ela como Alexandrina Vitória, mas o primeiro nome foi retirado a pedido da Rainha e não voltou a seu usado.
Rainha Vitória em 1838
Desde 1714 que o soberano da Grã-Bretanha tinha também partilhado o trono com o Reino de Hanôver, na Alemanha, mas como este tinha em vigor uma lei sálica que impedia a sucessão de mulheres ao trono, Vitória não pôde herdar, passando para o irmão mais novo do seu pai, o seu tio mal-visto, o Duque de Cumberland e Teviotdale, que se tornou no Rei Ernesto Augusto I de Hanôver. Foi também ele o seu herdeiro presumível até ela se casar e ter um filho.
Rei Ernesto Augusto I de Hanôver
Na altura em que subiu ao trono o governo era liderado por um primeiro-ministro liberal, Lorde Melbourne, que se tornou numa forte influência para Vitória que não tinha experiência política e contava com ele para pedir conselhos.
Lorde Melbourne
A sua coroação aconteceu no dia 28 de junho de 1838 e Vitória tornou-se na primeira soberana a residir no Palácio de Buckingham. Herdou as propriedades dos ducados de Lencastre e Cornualha e passou a receber 385.000 libras por ano. Sendo que era necessário pagar as dívidas do seu pai.
Rainha Vitória na sua coroação
No início do seu reinado, Vitória foi popular, mas a sua reputação sofreu um duro golpe durante uma intriga da corte em 1839 quando a barriga de uma das damas-de-companhia da sua mãe, Lady Flora Hastings, começou a crescer anormalmente, causando rumores de que esta tinha engravidado, fora do casamento, de Sir. John Conroy, Vitória acreditou nos rumores, odiava Conroy e desprezava "aquela odiosa Lady Flora", uma vez que esta tinha conspirado com Conroy e a Duquesa de Kent no sistema Kensington.
Lady Flora Hastings
A principio, Lady Flora recusou submeter-se a um exame médico nua, mas mais tarde, em fevereiro, finalmente cedeu e descobriu-se que ela ainda era virgem. Conroy, a família Hastings e os conservadores organizaram uma campanha na imprensa afirmando que a Rainha tinha ajudado a espalhar rumores falsos sobre Lady Flora.

Quando Lady Flora morreu, em julho, a autópsia revelou que ela tinha um grande tumor no fígado e tinha sido essa a causa do crescimento da barriga. Em aparições públicas, Vitória era assobiada e chamada de "Mrs. Melbourne".

Em 1839, Melbourne demitiu-se quando os radicais e os conservadores votaram contra uma lei que suspendia a constituição da Jamaica. A lei retirava poder político aos donos de plantações que estavam a resistir à abolição da escravatura. A Rainha odiava ambos os partidos, e deu ordens a um conservador, Sir Robert Peel, para formar um novo governo.
Sir Robert Peel
Apesar de ser Rainha Vitória tinha de continuar a viver com a sua mãe com quem não se dava bem por causa do Sistema Kensington e da sua dependência contínua em Conroy, simplesmente pelo facto de ser solteira.

A sua mãe vivia em aposentos afastados no Palácio de Buckingham e Vitória recusava-se a vê-la muitas vezes. Quando a Rainha se queixou a Melbourne, dizendo-lhe que a proximidade da mãe lhe tinha causado um "tormento durante muitos anos", o primeiro-ministro simpatizou com ela, mas disse que tal podia ser evitado com um casamento, algo que a Vitória chamou de "uma alternativa chocante".
Palácio de Buckingham em 1837
Vitória estava interessada na educação que Alberto estava a receber para o preparar para o seu futuro papel como o seu marido, mas resistiu a apressar o casamento.

Vitória continuou a elogiar Alberto após a sua segunda visita à Inglaterra em outubro de 1839. Alberto e Vitória gostavam um do outro e a rainha pediu-o em casamento no dia 15 de outubro de 1839, apenas cinco dias depois da sua chegada a Windsor.

Casaram-se a 10 de fevereiro de 1840, na Capela Real do Palácio de St. James, em Londres. Vitória estava completamente apaixonada. Passou a primeira noite de casamento de cama com uma dor de cabeça, mas escreveu no deu diário: "NUNCA, NUNCA passei uma noite assim!!! O MEU QUERIDO, QUERIDO, QUERIDO, Alberto (...) o seu grande amor e afecto fizeram-me sentir num paraíso de amor e felicidade que nunca pensei alguma vez sentir! Segurou-me nos seus braços e beijamo-nos uma e outra vez! A sua beleza, a sua doçura e gentileza - como posso agradecer vezes suficientes ter um marido assim! (...) ser chamada por nomes ternurentos, que nunca me chamaram antes - foi uma bênção inacreditável! Oh! Este foi o dia mais feliz da minha vida!"
Dia do casamento da Rainha Vitória com Alberto
Alberto tornou-se um conselheiro político importante, bem como o companheiro da Rainha, substituindo Lorde Melbourne como figura dominante e influente na primeira metade da sua vida.
Príncipe Alberto
A mãe de Vitória, a duquesa de Kent, foi despejada do Palácio e enviada para Ingestre House em Belgrave Square. Após a morte da princesa Augusta em 1840, a mãe de Vitória recebeu as casas de Clarence e Frogmore. Com a ajuda de Alberto, a relação entre mãe e filha começou a melhorar aos poucos.
Ingestre House
Durante a primeira gravidez de Vitória em 1840, nos primeiros meses de casamento, Edward Oxford, então com 18 anos, tentou assassiná-la quando estava numa carruagem com o príncipe Alberto a caminho da casa da mãe. Oxford disparou duas vezes, mas ambas as balas falharam o alvo. Foi julgado por alta traição e considerado culpado, mas foi depois libertado por se considerar que estava louco.
Tentativa de assassinato da Rainha Vitória
Edward Oxford
Depois do incidente, a popularidade de Vitória aumentou, fazendo com que problemas anteriores fossem esquecidos.
Rainha Vitória
A sua primeira filha, que também recebeu o nome Vitória, nasceu no dia 21 de novembro de 1840. A Rainha detestava estar grávida, achava a amamentação repugnante e achava os recém-nascidos feios. Mesmo assim ainda viria a ter mais oito filhos com o príncipe Alberto.
Princesa Vitória em criança
A casa de Vitória era maioritariamente governada por aquela que tinha sido a sua governanta durante a sua infância, a baronesa Louise Lehzen. Ela tinha sido uma grande influência em Vitória, e tinha-a apoiado contra o Sistema Kensington. Contudo, Alberto achava-a incompetente e o seu desgoverno ameaçava a saúde da sua filha, Vitória. Após uma zanga entre Vitória e Alberto por causa deste assunto, Lehzen foi reformada e a sua relação próxima com Vitória acabou.
Louise Lehzen
O segundo filho da Rainha foi Eduardo VII, nascido a 9 de novembro de 1841.
Eduardo VII do Reino Unido em 1846
A terceira gravidez seria de Alice do Reino Unido, nascida a 25 de abril de 1843.
Alice do Reino Unido em 1861
O quarto filho foi Alberto de Saxe-Coburgo-Gota, nascido a 6 de agosto de 1844.
Alberto de Saxe-Coburgo-Gota em uniforme
A 25 de maio de 1846, nasce Helena do Reino Unido.
Helena do Reino Unido em 1910
A 18 de março de 1848, nasceu Luísa do Reino Unido.
Luísa do Reino Unido
O sétimo filho nasceu a 1 de maio de 1850, Artur do Reino Unido.
Artur do Reino Unido
O oitavo foi Leopoldo do Reino Unido, a 7 de abril de 1853.
Leopoldo do Reino Unido
A última gravidez da Rainha foi de Beatriz do Reino Unido, nascida a 14 de abril de 1857.
Beatriz do Reino Unido
Um dos filhos de Vitória, o segundo mais novo, Leopoldo, foi o primeiro descendente de Vitória a sofrer de Hemofilia B e duas das suas cinco filhas, Alice e Beatriz, descobriram, depois de ter filhos, que eram portadoras do gene defeituoso.

Os descendentes reais que sofriam da doença incluíam os seus bisnetos. A presença da doença está nos descendentes da Rainha, mas não nos seus antepassados, levou a especulações nos dias de hoje, afirmando que o verdadeiro pai da Rainha Vitória não era o Duque de Kent, mas sim um hemofílico.

Não existe nenhuma prova documentada sobre a presença de hemofílicos na família da mãe de Vitória e como os homens apenas sofrem a doença, mas não podem transmitir, essa teoria foi desvalorizada. É mais provável que tenha havido uma mutação espontânea, visto que o pai de Vitória era já bastante velho quando a concebeu e a hemofilia aparece frequentemente em crianças nascidas de pais mais velhos. Cerca de 30% dos casos de hemofilia aparecem por mutações espontâneas.

A 29 de maio de 1842 Vitória estava a andar de carruagem na zona de The Mall, em Londres, quando John Francis lhe apontou uma pistola, mas não disparou. No dia seguinte, Vitória foi pelo mesmo caminho, mas mais depressa e com mais segurança numa tentativa premeditada de provocar Francis a tentar dispara novamente e, assim, ser apanhado em flagrante.
Rainha Vitória em 1842
Como esperado, Francis disparou, mas foi travado por um polícia vestido à paisana e condenado por alta traição. A 3 de julho, dois dias depois da sentença de morte de Francis ser mudada para transporte para uma das colónias inglesas para o resto da vida, outro homem, John William Bean, também apontou uma pistola à Rainha, mas esta estava apenas carregada com papel e tabaco.

Oxford achou que estas tentativas tinham sido inspiradas pela sua experiência em 1840. Bean foi condenado a  18 meses de prisão. Em 1849 houve um ataque semelhante, desta fez executado pelo irlandês William Hamilton que disparou uma pistola carregada como pólvora contra a carruagem de Vitória quando esta passava por Constitution Hill, em Londres.

Em 1850, a Rainha chegou mesmo a ser ferida quando foi atacada por Robert Pate, um antigo oficial do exército, possivelmente louco. Enquanto Vitória estava a andar de carruagem, Pate atingiu-a com a sua bengala, destruindo-lhe o chapéu e deixando-lhe nódoas negras na cara. Tanto Hamilton como Pate foram condenados a um transporte de sete anos para as colónias.

Em 1845 a Irlanda sofreu uma praga nas plantações de batata. Nos quatro anos que se seguiram, mais de um milhão de irlandeses morreram e outro milhão emigrou num período que ficou conhecido como "A Grande Fome".
Escultura em Dublin em homenagem às vitimas da Grande Fome de 1845-1849 na Irlanda
Na Irlanda, Vitória passou a ser chamada de "Rainha da Fome". Vitória doou 2.000 libras para ajudar a aliviar a fome, uma quantia superior a qualquer outra doação feita na época por um só indivíduo. Gerou-se um mito, no século XIX, que ela tinha dado apenas 5 libras para ajudar os irlandeses e de que no mesmo dia tinha dado a mesma quantia a um abrigo para cães.

A nível internacional, Vitória centrou as suas atenções na melhoria das relações entre a França e o Reino Unido. Visitou e recebeu muitas vezes a família real francesa, os Orleães, alguns dos quais eram parentes dos Coburgos por casamento.

Vitória e Alberto, em 1843 e 1845 ficaram no Castelo d'Eu, com o Rei Luís Felipe I. Vitória foi a primeira monarca britânica a visitar um monarca francês desde o encontro no campo de pano de ouro em 1520.
Castelo d'Eu
Quando o Rei Luís Filipe retribuiu a visita em 1844, tornou-se o primeiro soberano francês a visitar um soberano britânico. Luís Filipe foi deposto pelas revoluções de 1848 e foi para o exílio em Inglaterra.
Rei Luís Filipe
Em 1853, Vitória deu à luz o seu oitavo filho, Leopoldo, com a ajuda de um novo anestésico, o clorofórmio. Vitória ficou tão impressionada com o alívio que lhe deu da dor do parto que voltou a usar em 1857, na altura do nascimento da sua última filha, Beatriz, apesar de membros do clero se terem oposto por considerarem que ia contra os ensinamentos da Bíblia, assim como membros da classe médica que achavam o medicamento perigoso.

Vitória pode ter sofrido de depressão pós-parto depois de muitas das suas gravidezes. Existem cartas escritas por Alberto para Vitoria onde este se queixava da sua falta de auto-controlo. Por exemplo, cerca de um mês após o nascimento de Leopoldo, Alberto queixou-se numa carta sobre a sua "histeria continua" por causa de "um assunto sem importância".

Em 1858, a filha mais velha de Vitória casou-se com o príncipe Frederico Guilherme da Prússia em Londres. Os dois eram noivos desde 1855, quando a princesa real Vitória tinha apenas 14 anos. O casamento foi atrasado pela Rainha e pelo príncipe Alberto até a noiva completar 17 anos.
Princesa Vitória filha da Rainha Vitória em 1857
Frederico Guilherme da Prússia
A Rainha e o príncipe Alberto esperavam que a sua filha e genro fossem responsáveis pela liberalização do crescente reino prussiano. Vitoria sentiu "o coração doente" por ver a sua filha a deixar a Inglaterra para passar a viver na Alemanha.
Princesa Vitória e Frederico Guilherme da Prússia quatro dias depois do casamento
A Rainha escreveu à filha "Faz-me arrepiar quando olho para todas as tuas doces, felizes e inocentes irmãs e penso que vou ter de as deixar também - uma a uma." Quase um ano depois, a princesa Vitória deu à luz o primeiro neto da Rainha Vitória, o futuro Kaiser Guilherme II da Alemanha.
Guilherme II da Alemanha
Em 1861, a mãe de Vitória morreu ao seu lado. Quando leu os documentos deixados pela mãe ela compreendeu que a mãe a tinha amado profundamente, ficou destroçada e culpou Conroy e Lehzen por a terem afastado "maldosamente" da sua mãe.
Rainha Vitória em 1860
Para distrair a sua esposa neste período de sofrimento intenso, Alberto substituí-a em grande parte dos seus deveres, apesar dele próprio estar doente com problemas crónicos no estômago. Em agosto, Vitória e Alberto visitaram o seu filho, o príncipe Eduardo de Gales, que estava a participar em manobras do exército em Dublin e passaram alguns dias em Killarney.
Rainha Vitória e o Príncipe Alberto em 1961
Em novembro, Alberto ficou a saber de rumores de que Eduardo teria dormido com uma atriz, Nellie Clifden, na Irlanda. Horrorizado, Alberto foi até Cambridge, onde o seu filho estava a estudar, e confrontou-o.

Em dezembro, Alberto estava muito mal. William Jenner diagnosticou-o com febre tifóide e o príncipe morreu no dia 14 de dezembro de 1861. Vitória ficou devastada, acabando por culpar o filho da morte do marido. Disse que Alberto tinha sido "morto por causa daquele assunto horrível".
Príncipe Alberto
Entrou em luto e usou roupa preta para o resto da vida. Evitou aparições públicas e raramente foi a Londres nos anos que se seguiram. O seu isolamento fez com que passasse a ser chamada de "viúva de Windsor".
Rainha Vitória de luto, com vestes pretas
O isolamento auto-imposto por Vitória do público fez com que a sua popularidade diminuísse e encorajou o crescimento do movimento republicano. A Rainha tratava dos seus assuntos de governo oficiais, mas escolheu ficar nas suas residências no Castelo de Windsor, Osborne House e a propriedade privada na Escócia, o Castelo de Balmoral, que tinha comprado com Alberto em 1847.
Castelo de Windsor
Em março de 1864, um protestante colocou um cartaz nas grades do Palácio de Buckingham que dizia: "esta propriedade está à venda em consequência da falência do negócio do seu antigo ocupante". O seu tio Leopoldo escreveu-lhe para a aconselhar a aparecer em público.

A Rainha concordou em aparecer nos jardins da sociedade real de horticultura em Kensington e dar um passeio numa carruagem aberta por Londres.

Ao longo da década de 1860 Vitória começou a depender de um criado escocês, John Brown. Começaram a surgir os rumores de que os dois tinham uma relação e até de que se tinham casado em segredo e os jornais começaram a chamar a Rainha de Mrs. Brown.
John Brown
Em 1866, Vitória esteve presente na abertura do parlamento pela primeira vez desde a morte de Alberto. No ano seguinte apoiou a aprovação da lei de reforma de 1867 que duplicava o número do eleitorado, estendendo o direito de voto a vários trabalhadores urbanos, embora a Rainha fosse contra o direito de voto para mulheres.

Em 1870 o sentimento republicano britânico teve um ponto alto, alimentado pelo isolamento de Vitória e pela criação da Terceira República Francesa. Foi realizado um comício republicano em Trafalgar Square, onde foi exigida a retirada de Vitória e vários membros radicais do governo discursaram contra ela.
Trafalgar Square em 1885
Em agosto e setembro de 1871, a Rainha esteve gravemente doente com um abcesso no braço, que Joseph Lister conseguiu tratar com sucesso graças ao seu novo spray de ácido carbólico anti-séptico.
Joseph Lister
Em finais de novembro de 1871, no ponto mais alto do movimento republicano, o príncipe de Gales contraiu febre tifóide, a doença que tinha matado o seu pai, e Vitória temeu que o seu filho fosse morrer, à medida que se aproximava o décimo aniversário da morte do seu marido, a saúde de Eduardo parecia não dar sinais de melhoria e a preocupação de Vitória continuou.
Eduardo VII
Para alegria de todos, Eduardo conseguiu sobreviver. Mãe e filho estiveram presentes numa parada pública em Londres e um grande serviço de ação de graças na Catedral de São Paulo no dia 27 de fevereiro de 1872 e o sentimento republicano começo a desaparecer.

No último dia de fevereiro de 1872, dois dias depois do serviço de ação de graças, Arthur O'Connor, um sobrinho-neto de um deputado irlandês, apontou uma pistola sem balas à carruagem aberta de Vitória quando esta estava a atravessar os portões do Palácio de Buckingham. Brown, que estava ao lado da Rainha, agarrou-o e o rapaz foi condenado a um ano de prisão. Graças a este incidente, a popularidade da rainha aumentou ainda mais.

A 14 de dezembro de 1878, aniversário da morte de Alberto, a segunda filha de Vitória, a princesa Alice, que se tinha casado com o grão-duque Luís IV de Hesse, morreu de difteria em Darmstadt. Vitória achou que a coincidência das datas era "quase incrível e muito misteriosa".
Princesa Alice do Reino Unido
Grão-duque Luís IV de Hesse
Em maio de 1879, tornou-se bisavó pela primeira vez aquando do nascimento da princesa Feodora de Saxe-Meiningen, filha da sua neta Carlota da Prússia, e completou o seu "pobre e triste 60.º aniversário". Sentia-se "velha" pela "perda da minha querida filha".
Feodora de Saxe-Meiningen
Carlota da Prússia
No dia 2 de março de 1882, Roderick Maclean, um poeta reconhecido que teria ficado ofendido por Vitória ter-se recusado a receber um dos seus poemas, disparou contra a Rainha quando a sua carruagem estava a deixar a estação de comboios de Windsor. Dois estudantes de Eton College bateram-lhes com os seus guarda-chuvas até o poeta ser detido pela polícia.
Roderick Maclean e ilustração ao momento do ataque
Vitória ficou furiosa quando Maclean foi ilibado por insanidade, mas ficou tão feliz com as demonstrações de lealdade depois do ataque que disse que "valeu a pena ser alvejada só para ver como uma pessoa é amada".

A 17 de marços de 1883 Vitória caiu alguns degraus em Windsor, o que a deixou presa a uma cadeira-de-rodas até julho. A Rainha nunca mais recuperou completamente desta queda e sofreu de reumatismo até ao fim da sua vida.

John Brown morreu dez dias depois do acidente e, para consternação do seu secretário privado, Sir Henry Ponsonby, a Rainha começou a trabalhar numa biografia laudatória do seu fiel criado. O manuscrito foi destruído, pois os esboços iriam causar rumores de que os dois tinham tido um caso amoroso.
Rainha Vitória a cavalo com o seu criado John Brown
No inicio de 1884 Vitória publicou o livro "More Leaves from a Journal of a Life in the Highlands", uma sequela do seu primeiro livro, que dedicou ao seu "criado pessoal devoto e fiel amigo, John Brown".
Livro da Rainha Vitória "More Leaves from a Journal of a Life in the Highlands"
Um dia depois do primeiro aniversário da morte de Brown, Vitória soube através de um telegrama que o seu filho mais novo, Leopoldo, tinha morrido em Cannes, vitima de um ataque de hemofilia. Vitória lamentou a morte daquele que era "o mais querido dos meus filhos".
Leopoldo do Reino Unido
No mês seguinte, a filha mais nova de Vitória, Beatriz, conheceu e apaixonou-se pelo príncipe Henrique de Battenberg no casamento da sua sobrinha, a princesa Vitória de Hesse e do Reno, com o irmão mais velho de Henrique, Luís Battenberg.
Princesa Beatriz em 1868
Beatriz e Henrique queriam casar-se, mas a principio Vitória foi contra a união, uma vez que queria manter Beatriz em casa para lhe fazer companhia. Um ano depois acabou por ser derrotada e Henrique e Beatriz prometeram que continuariam a viver por perto e a fazer-lhe companhia.
Henrique de Bettenberg
Em 1887 o Império Britânico celebrou o Jubileu de Ouro do reinado de Vitória. A Rainha marco o 50.º aniversário de subida ao trono no dia 20 de junho com um banquete no qual estiveram presentes cinquenta Reis e príncipes. No dia seguinte participou numa procissão que, nas palavras de Mark Twain, "se estendia além do limite da visão de ambos os lados" e esteve presente numa missa de ação de graças na Abadia de Westminster.
Rainha Vitória no seu Jubileu de Ouro
Dois dias depois, no dia 23 de junho, contratou dois indianos muçulmanos para serem seus criados. Um deles, Abdul Karim, foi promovido pouco depois a "Munshi": ensinou à Rainha Hindi-Urdu e agiu como seu escriturário.
Abdul Karim
A família e os seus criados da Rainha ficaram horrorizados, acusando Abdul Karim de ser um espião da Liga Patriótica Muçulmana e tentaram colocar a Rainha contra hindus. Abdul ficou com a Rainha até à sua morte, sendo depois enviado de volta para a Índia com uma pensão.
Rainha Vitória aos 70 anos
A filha mais velha de Vitória tornou-se imperatriz-consorte da Alemanha em 1888, mas ficou viúva menos de três meses depois e o seu neto, Guilherme, tornou-se imperador da Alemanha com o nome de Guilherme II.

No dia 23 de setembro de 1896, Vitória ultrapassou o seu avô, Jorge III, como monarca que reinara por mais tempo na história do Reinado Unido. A Rainha pediu que as celebrações fossem adiadas até 1897 para coincidirem com o seu Jubileu de Diamante, para o qual foi feito um festival do Império Britânico, uma sugestão dada pelo secretário colonial Joseph Chamberlain.
Joseph Chamberlain
Todos os primeiros-ministros de todas as colónias com governo próprio foram convidados e a procissão do Jubileu de Diamante que percorreu Londres incluiu tropas de todo o império. A parada fez uma pausa para uma missa ao ar-livre de ação de graças que aconteceu junto à Catedral de São Paulo, durante o qual Vitoria ficou sentada na sua carruagem aberta. A celebração ficou marcada por grandes demonstrações de afecto à Rainha septuagenária.
Catedral de São Paulo
Vitória visitava o continente muitas vezes para as suas férias. Em 1889, quando estava em Biarritz, na França, tornou-se a primeira Rainha reinante do Reino Unido a visitar a Espanha quando atravessou a fronteira para uma breve visita.

Em abril de 1900, a Segunda Guerra dos Bôeres estava a ser tão mal-recebida pelo continente europeu que a sua viagem anual à França for desaconselhada. Em vez disso, Vitória foi até à Irlanda pela primeira vez desde 1861, em parte para agradecer a contribuição dos regimentos irlandeses na África do Sul.

Em julho, o seu segundo filho, Alfredo, morreu: "Meu Deus! O meu querido e pobre Affie também morreu", escreveu ela no seu diário. "É um ano horrível, não acontece mais nada a não ser tristeza e horrores de uma maneira ou de outra".
Alfredo de Saxe-Coburgo-Gota
Segundo um costume que manteve ao longo da sua viuvez, Vitória passou o Natal de 1900 na Osborne House, na Ilha de Wight. O reumatismo nas suas pernas impedia-a de andar e a sua visão estava muito afetada por cataratas.
Osborne House
Ao longo do inicio de janeiro, sentia-se "fraca e mal", e em meados do mês escreveu no seu diário para dizer que se sentia "sonolenta (...) tonta [e] confusa". Morreu lá, devido à degradação da sua saúde, na terça-feira, dia 22 de janeiro de 1901, às 18h30, com 81 anos de idade. No leito da sua morte, ela estava acompanhada do seu filho, o futuro Rei Eduardo VII, e o seu neto mais velho, o imperador alemão Guilherme II.

Em 1897, Vitória tinha escrito instruções para o seu funeral, que queria que fosse militar, já que ela era filha de um soldado e chefe do exército, e a cor dominante seria o branco e não o preto.
Funeral da Rainha Vitória

No dia 25 de janeiro, o Rei Eduardo VII, o imperador Guilherme II e o príncipe Artur, Duque de Connaught, ajudaram a levar o caixão.
Funeral da Rainha Vitória 
A Rainha estava vestida de branco e com o seu véu de casamento. A seu pedido foram também colocadas várias fotografias e objetos da sua numerosa família e criados no caixão pelo médico e pelas criadas que a vestiram.

Uma das camisas de dormir de Alberto foi colocada a seu lado, juntamento com um molde de gesso da sua mãe e uma fotografia e madeixa de cabelo de John Brown foram escondidos do lado esquerdo, debaixo de um ramo de flores. Várias jóias foram enterradas com Vitória, incluindo a aliança da mãe de John Brown que este lhe tinha dado em 1883.
Uma foto da Rainha Vitória com o marido, Alberto em 1854
O seu funeral realizou-se no sábado, dia 2 de fevereiro de 1901, na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor e, depois de dois dias de velório, foi enterrada junto de Alberto no Mausoléu de Frogmore, no Grande Parque de Windsor. No momento do enterro, começou a nevar.

Vitória reino por 63 anos, 7 meses e 2 dias, o mais longo reinado de uma monarca britânico até então. A morte de Vitória pôs fim ao poder da Casa de Hanôver no Reino Unido. Como o marido dela pertencia à Casa de Saxe-Coburgo-Gota, o seu filho herdeiro Eduardo VII foi o primeiro monarca britânico desta nova casa.
Rei Eduardo VII

Outras considerações:
Vitória terá escrito uma média de 2500 palavras por dia durante a sua vida adulta. Desde julho de 1832 até pouco antes da sua morte, escreveu em diários frequentemente, reunindo um total de 122 volumes.
Rainha Vitória a escrever
Após a sua morte, Beatriz, a sua filha, foi nomeada sua executora literária, ela transcreveu e editou os diários a partir da sua ascensão ao trono e queimou os originais no processo. Apesar desta destruição, muitos dos diários ainda existem.
Diário da Rainha Vitória 
Vitória era fisicamente desproporcional - tinha peso a mais, era deselegante e não tinha mais de um metro e meio, mas teve sucesso em projetar uma grande imagem.
Rainha Vitória 
As muitas biografias publicadas até hoje concluem que Vitória era emocional, obstinada, honesta e frontal.
Rainha Vitória em 1897
Os laços que Vitória tinha com as famílias reais europeias valeram-lhe a alcunha de "a avó da Europa".

Vitória e Alberto tiveram quarenta e dois netos. Os seus descendentes incluem a Rainha Isabel II, o príncipe Filipe, o Rei Haroldo V da Noruega, o Rei Carlos XVI Gustavo da Suécia, a Rainha Margarida II da Dinamarca, o Rei Juan Carlos de Espanha e a sua esposa Sofia.
Na imagem: Rainha Vitória e Príncipe Alberto acompanhados dos oito filhos.
A Rainha Vitória casou-se vestida de branco, representando a pureza e o casamento por amor, usou também véu coisa que era impensável, pois era um acessório proibido para uma Rainha.
Rainha Vitória no dia do seu casamento
Como princesa, Vitória não tinha nenhum brasão. Como soberana, usava o Real Brasão de Armas do Reino Unido.
Brasão de Vitória como Rainha do Reino Unido
Brasão de Vitória na Escócia
A Rainha Vitória foi retratada em vários filmes, livros, revistas e outras publicações. O primeiro filme de sucesso foi Victoria, The Great, realizado e produzido por Herbert Wilcox, interpretada por Anna Neagle, o filme estreou em 1937, ano de coroação do bisneto de Vitória, o Rei Jorge VI, e serviu para comemorar o centenário da coroação da Rainha em 1837.
Filme "Victoria, The Great"
Anna Neagle
Mais recentemente, em 2009, Emily Blunt e Rupert Frend protagonizaram o filme The Young Victoria, uma versão romantizada da vida do casal real que foi bem recebida pela crítica e recebeu várias nomeações para os Óscares e para os Globos de Ouro, incluindo Melhor Atriz Dramática, Melhor Direção Artística, Maquilhagem e Guarda-roupa.
Filme "The Young Victoria"
Emily Blunt e Rupert Frend

Mary Sweet

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