Anastásia Nikolaevna Romanova
Por este nome acredito que muitas das pessoas não cheguem lá, mas se eu disser que foi uma das filhas do Czar Nicolau II da Rússia e que acabou executada com a restante família, mesmo havendo alguns relatos de sobrevivência, assim talvez haja mais alguém que saiba da sua existência. Para quem não conhece ou não conhece ao pormenor, aqui fica alguma informação.
Nasceu no Palácio de Peterhof, em São Petersburgo a 18 de junho de 1901.
Foi a quarta filha e a segunda mais nova do Czar Nicolau II da Rússia e da Czarina Alexandra Feodorovna, os últimos governantes autocráticos da Rússia Imperial.
Quando nasceu, os seus pais e familiares ficaram desapontados por terem tido uma quarta menina e não o desejado herdeiro, o seu pai deu um longo passeio para se recompor antes de visitar a Czarina Alexandra e ver a bebé pela primeira vez.
Czar Nicolau II escreveu no seu diário, no dia do nascimento de Anastásia: "Exatamente às seis da manhã, uma pequena filha - Anastásia - nasceu. Foi tudo muito rápido e, graças a Deus, sem complicações! Por tudo ter começado e acabado enquanto todos ainda dormiam, ambos temos um sentimento de calma e solidão".
Anastásia cresceu como uma criança vivaz e energética, descrita como baixa e com tendência para o excesso de peso, com olhos azuis e cabelo louro-arruivado.
Era teimosa, travessa e impertinente, adorava a mímica, imitava exatamente a fala e o jeito das pessoas ao seu redor. Diz-se também que era astuta e observadora, e tinha um apurado sentido de humor, ao contrário das suas irmãs, não sabia o que era timidez.
Descrita como inteligente e dotada, apesar de tudo, nunca se interessou muito pelas restrições da sala de aula, pelo menos segundo os relatos dos seus professores Pierre Gilliard e Sydney Gobbes, como as suas damas-de-companhia Lili Dehn e Anna Vyrubova.
Por vezes, excedia os limites do comportamento aceitável. Diz-se que bateu o recorde de castigos na família, e era um verdadeiro génio a pregar partidas.
Era também uma "maria-rapaz" que raramente chorava. A sua tia Olga Alexandrovna recordou que, certa vez, ela estava a importuná-la tão excessivamente, que lhe deu uma bofetada. O seu rosto ficou vermelho, mas saiu a correr silenciosamente pelo quarto.
Anastásia e a sua irmã mais velha, Maria, eram conhecidas na família como "O Par Pequeno", partilhavam o mesmo quarto, usavam variações do mesmo vestido e passavam a maior parte do tempo juntas.
As suas irmãs mais velhas, Olga e Tatiana, também partilhavam um quarto e eram conhecidas como "O Par Grande". As quatro irmãs assinavam as suas cartas usando a alcunha OTMA.
Anastásia também era muito chegada ao seu irmão, hemofílico, Czarevich Alexei, diz-se que um adivinhava o que o outro estava a pensar sem precisarem de dizer uma palavra, e era ela quem o conseguia animar quando ele sofria ataques de hemofilia.
Apesar da sua energia, Anastásia sofria de vários problemas de saúde, tinha joanetes, uma condição dolorosa que afetavam os seus dedos dos pés. Tinha também um músculo fraco nas costas, por isso tinha de receber massagens duas vezes por semana. Para fugir destas massagens, ela escondia-se debaixo da cama ou dentro do armário.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Anastásia visitava soldados feridos num hospital privado em Czarskoe Selo na companhia da sua irmã Maria. As duas adolescentes, tornaram-se enfermeiras da Cruz Vermelha, como a sua mãe e as suas irmãs mais velhas. Jogavam xadrez e bilhar com os soldados e tentavam animá-los.
Felix Dassel, que foi tratado no hospital e conheceu Anastásia, recordou que a grã-duquesa "ria como um esquilo" e caminhava rapidamente "como se fosse sempre aos saltinhos".
Em fevereiro de 1917, após a abdicação do Czar Nicolau II, Anastásia e a família foram colocados sob prisão domiciliária no Palácio de Alexandre em Czarskoe Selo durante a Revolução Russa.
Revolução de Fevereiro |
A ansiedade e incerteza do cativeiro trouxeram sofrimento para toda a família.
Em Tobolsk, Anastásia e as suas irmãs coseram jóias nas suas roupas na esperança de as esconder dos seus carrascos, uma vez que Alexandra, que já tinha sido transferida para Ecaterimburgo com o marido e a filha Maria, enviou uma carta a avisá-las que tinham sido todos revistados quando chegaram à cidade e que lhes foram confiscados os objetos pessoais.
Anastásia, Olga e Tatiana foram assediadas sexualmente por guardas procurando pelas jóias escondidas, a bodo do Rus, um navio a vapor que as transportou à Ekaterimburgo para se juntarem aos pais e à irmã Maria em maio de 1918.
Mesmo nos seus últimos meses de vida, procurou sempre maneiras de se divertir. Com outros membros da casa, fazia peças de teatro para entreter os pais e outros presentes, na primavera de 1918.
Segundo relato, imediatamente antes da alvorada do dia dos assassinatos, a família foi acordada e foi-lhes dito para se vestirem. Quando perguntaram o porquê dessa ordem, foi-lhes dito que precisavam de tirar uma fotografia para provar que ainda estavam vivos.
Há também relatos de que foi-lhes dito que havia um tiroteio, o que tornava os quartos superiores, onde dormiam, inseguros, e teriam que se mudar imediatamente para a cave.
Foi permitido a Nicolau, Alexandra e Alexei, no colo da mãe, de se sentarem em cadeiras providenciadas pelos guardas a pedido da imperatriz. Após vários minutos, os carrascos entraram na sala, conduzidos por Yurosky. Sem hesitação, informou rapidamente ao Czar e à sua família que iam ser todos executados.
Czarina Alexandra e o filho Alexei |
O Czar apenas teve tempo de perguntar "O quê?" e de se virar para a sua família, antes de ser abatido com uma bala na cabeça. A imperatriz e a filha Olha tentaram fazer o sinal da cruz, mas foram mortas, com tiros na cabeça. O resto da família e comitiva, foram mortos logo depois.
À medida que os corpos eram retirados da cave, duas das grã-duquesas deram sinais de vida. Uma sentou-se e gritou, levantando um braço por cima da cabeça, enquanto a outra a sangrar da boca, gemeu e mexeu-se ligeiramente, é provável que terá sido Maria, que talvez estivesse apenas inconsciente, enquanto Anastásia poderia ainda ter capacidade para se mexer. No entanto, os ossos de Maria não mostram sinais de violência e os fragmentos queimados do corpo de Anastásia descobertos em 2009 não fornecem qualquer pista para a sua causa de morte. Terá morrido em Ecaterimburgo, a 17 de julho de 1918.
Em 2000, Anastásia e a sua família foram canonizados como Portadores da Paixão pela Igreja Ortodoxa Russa. Os copos do Czar Nicolau II, da Czarina Alexandra e de três filhas foram enterrados na Catedral de São Pedro e Paulo em São Petersburgo a 17 de julho de 1998, oitenta anos depois dos assassinatos.
A possível sobrevivência de Anastásia tem sido assunto de vários filmes, peças de teatro e séries de televisão. O mais antigo, foi feito em 1928, chamava-se Clothes Make the Woman. A história é sobre uma mulher que aparece para fazer o papel de uma Anastásia salva para um filme de Hollywood, e acaba por ser reconhecida pelo soldado russo que a salvou originalmente dos seus assassinatos. O mais famoso é provavelmente o filme altamente fictício de 1956 Anastásia protagonizado por Ingrid Bergman.
Mary Sweet
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