Palácio Nacional da Ajuda
Conhecido também por Paço de Nossa Senhora da Ajuda, é um monumento nacional português, situado na freguesia da Ajuda, em Lisboa.![]() |
Palácio Nacional da Ajuda |
Em 1726, D. João V adquire três quintas na zona de Belém. A primeira tinha já uma edificação que é hoje o Palácio de Belém, a segunda uma ermida do Oratório que foi depois expandido para o que é hoje o Palácio das Necessidades e a terceira a quinta da Ajuda reservada para a edificação de uma residência real de verão.
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D. João V de Portugal |
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Palácio de Belém |
Palácio das Necessidades |
A utilização da quinta da Ajuda como Paço Real deu-se no rescaldo do Terramoto de Lisboa, a 1 de novembro de 1755 já no reinado de D. José. O terramoto destruiu praticamente toda a cidade de Lisboa, incluindo a residência do Rei, o velho Palácio da Ribeira.
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D. José I de Portugal |
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Paço da Ribeira |
Embora a família Real e a Corte encontrassem-se nesse dia em Belém, a zona ocidental da cidade onde os efeitos do terramoto não se fizeram sentir com tanta intensidade, o Rei ficou tão perturbado com este acontecimento que se recusou a viver em edifícios de alvenaria.
D. José mandou então construir no alto da Ajuda, local de pouca atividade sísmica, um palácio de madeira e pano, a que se chamou Real Barraca ou Paço de Madeira.
A obra ficaria concluía em 1761, esta construção obedecia, no seu início, a dois princípios, à resistência a sismos, graças aos seus materiais de construção e inexistência de alvenaria.
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Palácio da Ajuda no Século XIX |
No seu interior foram decorados com o melhor e mais belo mobiliário e grandes e preciosas peças de tapeçaria, pintura e ourivesaria. A estrutura cresceu tanto que era maior em área do que o Palácio existente hoje em dia.
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Uma das salas do Palácio da Ajuda |
Ali esteve a Corte durante cerca de três décadas, uma luxuosa atmosfera da época áurea do Despotismo Esclarecido suportado pelo que as remessas de ouro e brilhantes do Brasil ainda permitiam. Em 1768 o primeiro jardim botânico de Lisboa foi construído em redor do Palácio por ordem do ministro Sebastião José.
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Sebastião José, Marquês de Pombal |
Na Real Barraca viveria D. José até morrer, em 1777. Após a morte de D. José, a sua filha e sucessora, D. Maria I habitava, desde o seu casamento com D. Pedro III, o Palácio de Queluz. A Real Barraca ficou durante poucos anos desocupada, embora fosse muitas vezes visitada pela Rainha e os seus filhos.
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D. Maria I de Portugal |
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D. Pedro III de Portugal |
Em 1794, e segundos os registos, por descuido de um criado com uma candeia, deflagra-se um enorme incêndio que destrói por completo a Real Barraca e grande parte do seu valioso recheio, é totalmente consumido pelo fogo.
Salva-se a Torre da Paroquial graças à demolição durante o incêndio de um passadiço que a ligava à Real Barraca. Há algumas peças do recheio do Paço que resistiram ao incêndio expostas hoje em dia no Museu do Palácio Nacional da Ajuda.
Dá-se então a necessidade de construir um novo palácio digno de acolher a Família Real. Desde 10 de fevereiro de 1792, por demência da Rainha, o príncipe D. João futuro D. João VI passou a dirigir os negócios públicos, a partir de 1799 e até subir ao trono, assumiu o poder como Príncipe Regente. D. João aprova a construção de raiz de um novo palácio.
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D. João VI de Portugal |
A traça do plano é de Manuel Caetano de Sousa que apresenta um projeto Barroco, sendo o lançamento da primeira pedra celebrado a 9 de novembro de 1795. Ainda no início desta construção, chegaram a Portugal dois arquitetos vindos da escola de Bolonha e seguidores da nova corrente de inspiração neoclássica, que exerceram influência junto do Príncipe D. João pondo este de parte o projeto Barroco.
Os dois arquitetos eram Francisco Xavier Fabri e José da Costa e Silva e foram encarregados em 1802, de modificar o anterior projeto. Foi José da Costa e Silva que defendeu o aproveitamento da estrutura já construída adaptando-a ao novo projeto.
A construção é interrompida em várias ocasiões dados os recorrentes problemas, a nível nacional, de ordem financeira e política, como também as Invasões Francesas que, em 1807, levam a que a Família Real e a Corte se mude para o Brasil.
Quando em 1821, D. João VI regressou do Brasil, o Palácio ainda não estava concluído. As instalações permitiam apenas a realização de cerimónias protocolares, tais como a investidura da Ordem da Jarreteira a D. João VI, em 1823. Foi por estas condições que o monarca foi viver para o Palácio da Bemposta, onde veio a falecer a 10 de março de 1826.
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Palácio da Bemposta |
As alas nascente e sul do Paço da Ajuda eram já habitáveis, e sua decoração ficou ao encargo da Marquesa de Alorna convidada para tal. Depois da morte do Rei e ainda neste mesmo ano de 1826 vêm residir para o novo Paço Real e agora Infanta Regente D. Isabel Maria e as suas irmãs D. Maria da Assunção e D. Maria Francisca Benedita.
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D. Isabel Maria |
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D. Maria da Assunção |
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D. Maria Francisca Benedita |
Em 1828, D. Miguel I é aqui aclamado Rei pelos Três Estados reunidos na sala das Cortes, hoje Sala da Ceia. D. Miguel I chega a habitar o Paço da Ajuda cerca de seis meses enquanto o Palácio das Necessidades sofreu algumas alterações para a sua futura residência oficial.
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D. Miguel I de Portugal |
Iniciados os confrontos entre liberais e absolutistas, o país entra num clima de fragilidade e as obras que prosseguiam lentamente paralisam em 1833 com a entrada das tropas liberais em Lisboa.
Restabelecendo o regime liberal com a vitória das suas tropas, D. Pedro assume o poder como Regente até à maioridade da sua filha D. Maria Glória, futura D. Maria II, e jura na Sala do Trono do Paço da Ajuda, a 30 de agosto de 1834, a Carta Constitucional.
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D. Pedro IV de Portugal |
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D. Maria II de Portugal |
Por diversas razões, por esta altura já tinha sido posta de parte a realização do plano integral do Palácio. De facto, o conceito de poder centrado num grande Palácio, de onde o Rei tomava as suas decisões rodeado da sua Família, Corte e Ministros podia ter-se encaixado no panorama político da época da Regência e do Novo Regime mas já não teria o mesmo cabimento na nova perspetiva liberal.
D. Maria II e o seu segundo marido, o Rei-Consorte D. Fernando (futuro D. Fernando II) habitavam o recém-adaptado Palácio das Necessidades e o novo e extravagante Palácio da Pena mandado erguer em Sintra por D. Fernando, passando novamente, o Paço da Ajuda para segundo plano.
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D. Fernando II de Portugal |
O Palácio da Ajuda fica assim reduzido a esporádicas cerimónias oficiais, mesmo depois da morte da Rainha D. Maria II, e durante os reinados do Rei D. Fernando II e do seu filho D. Pedro V que chega a utilizar o Palácio para celebrar a sua Aclamação e Casamento e para visitar o seu amigo e bibliotecário real Alexandre Herculano. D. Pedro V reside com o seu pai e irmãos, no Palácio das Necessidades.
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D. Pedro V de Portugal |
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Alexandre Herculano |
Em 1861 dá-se uma tragédia no seio da Família Real. No final desse ano os infantes D. Fernando e D. Augusto adoecem com Febre Tifóide, acamados no Palácio das Necessidades, acabam por contagiar também o seu irmão o Rei D. Pedro V. A 6 de novembro o Rei moribundo, ouve o dobrar dos sinos pela morte do seu irmão de 15 anos, o infante D. Fernando.
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Infante D. Fernando de Portugal |
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Infante D. Augusto de Portugal |
Entretanto, os infantes D. Luís, futuro D. Luís I, e D. João, estavam em viagem, tinha ido levar a irmã, infanta D. Antónia para junto do marido na Bélica, voltaram rapidamente quando souberam das noticias. D. Luís foi recebido pelos dignitários, que dobrando o joelho, o trataram por "Majestade". O Rei, o seu irmão, D. Pedro V tinha falecido a 11 de novembro, ao mesmo soube da morte de D. Fernando, D. Augusto melhora, mas o D. João que tinha estado em viagem é contagiado e acaba por morrer a 27 de dezembro.
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D. Luís I de Portugal |
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D. João de Portugal |
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D. Antónia de Portugal |
Criam-se superstições, teorias e todas as vozes aconselham D. Luís a deixar o Palácio das Necessidades. D. Luís I muda-se por alguns meses para o Palácio de Paço de Arcos, enquanto se iniciam as obras de adaptação do Palácio da Ajuda.
Ao mesmo tempo, numa negociação apressada é escolhida uma princesa, Maria Pia de Saboia, filha do Rei de Itália Victor Emanuel II. Agora no centro das atenções o Palácio da Ajuda adquire a verdadeira dimensão de Paço Real, será a partir desse ano de 1861 e pela primeira vez na sua história, a Residência Régia.
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Maria Pia de Saboia, Rainha de Portugal |
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D. Victor Emanuel II de Itália |
Para receber o seu novo Monarca foram realizadas as obras indispensáveis na estrutura do edifício como telhados, madeiramentos, janelas. Foram grandes encomendas de tapetes, iluminações e móveis.
A Rainha Maria Pia, ao chegar à Ajuda em 1862, iniciou aquelas que foram as grandes alterações na decoração interior. Foram introduzidas novas regras de higiene, de conforto, de privacidade e de individualidade dos espaços, características da mentalidade burguesa do século XIX.
A decoração, embora fosse gerida quase ao total gosto da Rainha, era organizada e executada pelo arquiteto Joaquim Possidónio Narciso da Silva, cujos princípios que regem a sua decoração e as transformações por si operadas conseguiram ser muito ao gosto de Maria Pia.
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Arquiteto Joaquim Possidónio Narciso da Silva |
D. Maria Pia manda construir uma capela, assinada pelo arquiteto modernista Miguel Ventura Terra . Na capela encontram-se várias pinturas como a Virgem e o Menino do pintor José Veloso Salgado que está no altar e o único El Greco em Portugal.
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Arquiteto Miguel Ventura Terra |
A Ajuda é dos poucos Palácios Reais que mostra o lado familiar tão marcado, ao ponte de ser ele mesmo espelhado dessa relação.
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Sala Azul do Palácio Nacional da Ajuda |
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Sala Verde do Palácio Nacional da Ajuda |
O mobiliário tinha várias origens. Parte era proveniente das reservas dos Paços Reais e do Tesouro. Outra parte foi sendo adquirida às inúmeras casas portuguesas e estrangeiras da especialidade, sendo D. Maria Pia uma célebre impulsionadora e utilizadora da compra por catálogo, novidade na época. Os restantes elementos, seriam presentes de diferentes Casas Régias, assim como o enxoval trazido de Itália por D. Maria Pia.
O Palácio da Ajuda tornou-se simultaneamente cenário das festas de grande gala, banquetes e receções oficiais, bem como de acontecimentos ligados ao quotidiano da Família Real, concertos de música de Câmara, serões animados por diversos artistas, partidas de jogo de bilhar, wist e o Loto. D. Maria Pia pedia muitas vezes a D. Luís a Sala de Despacho para organizar o Natal e o Carnaval.
Neste Palácio nasceram os príncipes D. Carlos e D. Afonso, ficando a sua infância ligada ao mesmo.
O Reinado de D. Luís decorreu sob um momento de paz, de estabilidade, de progresso, distinguindo-se o Rei pela sua isenção política, tolerância e respeito pelas várias correntes partidárias.
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D. Carlos de Portugal |
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D. Afonso de Portugal |
D. Luís era amante de todas as Artes. Destaca-se a criação, com a ajuda do seu pai D. Fernando, da Galeria de Pintura na ala Norte do Palácio da Ajuda onde é reunida grande parte da coleção real que, abrindo ao público em 1869, acaba por encerrar em 1875.
Depois da morte de D. Luís em 1889, é D. Carlos, o seu filho que ocupa o trono ao lado da Rainha D. Amélia. Por esta altura, viviam em Belém com os seus filhos, o Príncipe Real D. Luís Filipe e o Infante D. Manuel. O Palácio da Ajuda passa novamente para segundo Plano. Fica a habitá-lo a Rainha-Mãe, D. Maria Pia, e o seu filho o Infante D. Afonso. Sendo reservadas dentro do Palácio, algumas salas do andar nobre para as cerimónias oficiais do novo reinado.
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Rainha D. Amélia de Portugal |
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Príncipe Real D. Luís Filipe de Portugal |
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D. Mauel II de Portugal |
A 1 de fevereiro de 1908 é assassinado o Rei e Príncipe herdeiro D. Luís Filipe. Sobe ao trono D. Manuel II, que reside nas Necessidades continuando o Paço da Ajuda reservado para cerimónias de Estado. D. Maria Pia saiu do Palácio até outubro de 1910, data em que toda a Família Real saiu de Portugal na sequência da instauração da República.
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Ilustração do regicídio de 1 de fevereiro de 1908, onde morreu o Rei D. Carlos e o Príncipe Herdeiro D. Luís Filipe |
Nos primeiros anos de República o Palácio é encerrado, mas a preocupação da República com o património ali guardado foi grande e todos os bens dos paços reais foram cuidadosamente inventariados. Numa segunda fase grande parte dos Paços Reais foi quase totalmente esvaziada e os seus recheios armazenados no Palácio da Ajuda.
Como casa-mãe das coleções Reais o Palácio reabre em 1938 como Museu. Em 1954 é inaugurada a Casa Forte onde é exposta a coleção das jóias e pratas da Coroa. Como o Palácio continuava inacabado, nos anos 1940 Raul Lino é por duas vezes encarregado de projetar o remate do edifício, nenhum destes projetos foi realizado.
Em 1974, de 23 para 24 de setembro, um grande incêndio destrói a Galeria de Pintura de D. Luís e parte da ala norte. Segundo relatos da imprensa, neste incêndio teriam sido destruídas grande parte das obras de arte ali existentes, num número aproximado de 500 quadros.
Antigo Palácio Real, é hoje em grande parte um museu, estando instalados no restante edifício a Biblioteca Nacional da Ajuda, o Ministério da Cultura, e o Instituto dos Museus e da Consevação.
O Palácio e o Museu são geridos pelos Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico e pela Presidência da República.
Mary Sweet
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