domingo, 10 de agosto de 2014

Pelos Caminhos do Mundo

Ainda pela capital, Lisboa, vamos passear até ao...

Palácio Nacional da Ajuda

Conhecido também por Paço de Nossa Senhora da Ajuda, é um monumento nacional português, situado na freguesia da Ajuda, em Lisboa.
Palácio Nacional da Ajuda

Em 1726, D. João V adquire três quintas na zona de Belém. A primeira tinha já uma edificação que é hoje o Palácio de Belém, a segunda uma ermida do Oratório que foi depois expandido para o que é hoje o Palácio das Necessidades e a terceira a quinta da Ajuda reservada para a edificação de uma residência real de verão.
D. João V de Portugal
Palácio de Belém
Palácio das Necessidades

A utilização da quinta da Ajuda como Paço Real deu-se no rescaldo do Terramoto de Lisboa, a 1 de novembro de 1755 já no reinado de D. José. O terramoto destruiu praticamente toda a cidade de Lisboa, incluindo a residência do Rei, o velho Palácio da Ribeira.
D. José I de Portugal
Paço da Ribeira

Embora a família Real e a Corte encontrassem-se nesse dia em Belém, a zona ocidental da cidade onde os efeitos do terramoto não se fizeram sentir com tanta intensidade, o Rei ficou tão perturbado com este acontecimento que se recusou a viver em edifícios de alvenaria.

D. José mandou então construir no alto da Ajuda, local de pouca atividade sísmica, um palácio de madeira e pano, a que se chamou Real Barraca ou Paço de Madeira.

A obra ficaria concluía em 1761, esta construção obedecia, no seu início, a dois princípios, à resistência a sismos, graças aos seus materiais de construção e inexistência de alvenaria.
Palácio da Ajuda no Século XIX

No seu interior foram decorados com o melhor e mais belo mobiliário e grandes e preciosas peças de tapeçaria, pintura e ourivesaria. A estrutura cresceu tanto que era maior em área do que o Palácio existente hoje em dia.
Uma das salas do Palácio da Ajuda

Ali esteve a Corte durante cerca de três décadas, uma luxuosa atmosfera da época áurea do Despotismo Esclarecido suportado pelo que as remessas de ouro e brilhantes do Brasil ainda permitiam. Em 1768 o primeiro jardim botânico de Lisboa foi construído em redor do Palácio por ordem do ministro Sebastião José.
Sebastião José, Marquês de Pombal

Na Real Barraca viveria D. José até morrer, em 1777. Após a morte de D. José, a sua filha e sucessora, D. Maria I habitava, desde o seu casamento com D. Pedro III, o Palácio de Queluz. A Real Barraca ficou durante poucos anos desocupada, embora fosse muitas vezes visitada pela Rainha e os seus filhos.
D. Maria I de Portugal
D. Pedro III de Portugal

Em 1794, e segundos os registos, por descuido de um criado com uma candeia, deflagra-se um enorme incêndio que destrói por completo a Real Barraca e grande parte do seu valioso recheio, é totalmente consumido pelo fogo.

Salva-se a Torre da Paroquial graças à demolição durante o incêndio de um passadiço que a ligava à Real Barraca. Há algumas peças do recheio do Paço que resistiram ao incêndio expostas hoje em dia no Museu do Palácio Nacional da Ajuda.

Dá-se então a necessidade de construir um novo palácio digno de acolher a Família Real. Desde 10 de fevereiro de 1792, por demência da Rainha, o príncipe D. João futuro D. João VI passou a dirigir os negócios públicos, a partir de 1799 e até subir ao trono, assumiu o poder como Príncipe Regente. D. João aprova a construção de raiz de um novo palácio.
D. João VI de Portugal

A traça do plano é de Manuel Caetano de Sousa que apresenta um projeto Barroco, sendo o lançamento da primeira pedra celebrado a 9 de novembro de 1795. Ainda no início desta construção, chegaram a Portugal dois arquitetos vindos da escola de Bolonha e seguidores da nova corrente de inspiração neoclássica, que exerceram influência junto do Príncipe D. João pondo este de parte o projeto Barroco.

Os dois arquitetos eram Francisco Xavier Fabri e José da Costa e Silva e foram encarregados em 1802, de modificar o anterior projeto. Foi José da Costa e Silva que defendeu o aproveitamento da estrutura já construída adaptando-a ao novo projeto.

A construção é interrompida em várias ocasiões dados os recorrentes problemas, a nível nacional, de ordem financeira e política, como também as Invasões Francesas que, em 1807, levam a que a Família Real e a Corte se mude para o Brasil.

Quando em 1821, D. João VI regressou do Brasil, o Palácio ainda não estava concluído. As instalações permitiam apenas a realização de cerimónias protocolares, tais como a investidura da Ordem da Jarreteira a D. João VI, em 1823. Foi por estas condições que o monarca foi viver para o Palácio da Bemposta, onde veio a falecer a 10 de março de 1826.
Palácio da Bemposta

As alas nascente e sul do Paço da Ajuda eram já habitáveis, e sua decoração ficou ao encargo da Marquesa de Alorna convidada para tal. Depois da morte do Rei e ainda neste mesmo ano de 1826 vêm residir para o novo Paço Real e agora Infanta Regente D. Isabel Maria e as suas irmãs D. Maria da Assunção e D. Maria Francisca Benedita.
D. Isabel Maria
D. Maria da Assunção
D. Maria Francisca Benedita

Em 1828, D. Miguel I é aqui aclamado Rei pelos Três Estados reunidos na sala das Cortes, hoje Sala da Ceia. D. Miguel I chega a habitar o Paço da Ajuda cerca de seis meses enquanto o Palácio das Necessidades sofreu algumas alterações para a sua futura residência oficial.
D. Miguel I de Portugal

Iniciados os confrontos entre liberais e absolutistas, o país entra num clima de fragilidade e as obras que prosseguiam lentamente paralisam em 1833 com a entrada das tropas liberais em Lisboa.

Restabelecendo o regime liberal com a vitória das suas tropas, D. Pedro assume o poder como Regente até à maioridade da sua filha D. Maria Glória, futura D. Maria II, e jura na Sala do Trono do Paço da Ajuda, a 30 de agosto de 1834, a Carta Constitucional.
D. Pedro IV de Portugal
D. Maria II de Portugal

Por diversas razões, por esta altura já tinha sido posta de parte a realização do plano integral do Palácio. De facto, o conceito de poder centrado num grande Palácio, de onde o Rei tomava as suas decisões rodeado da sua Família, Corte e Ministros podia ter-se encaixado no panorama político da época da Regência e do Novo Regime mas já não teria o mesmo cabimento na nova perspetiva liberal.

D. Maria II e o seu segundo marido, o Rei-Consorte D. Fernando (futuro D. Fernando II) habitavam o recém-adaptado Palácio das Necessidades e o novo e extravagante Palácio da Pena mandado erguer em Sintra por D. Fernando, passando novamente, o Paço da Ajuda para segundo plano.
D. Fernando II de Portugal

O Palácio da Ajuda fica assim reduzido a esporádicas cerimónias oficiais, mesmo depois da morte da Rainha D. Maria II, e durante os reinados do Rei D. Fernando II e do seu filho D. Pedro V que chega a utilizar o Palácio para celebrar a sua Aclamação e Casamento e para visitar o seu amigo e bibliotecário real Alexandre Herculano. D. Pedro V reside com o seu pai e irmãos, no Palácio das Necessidades.
D. Pedro V de Portugal
Alexandre Herculano

Em 1861 dá-se uma tragédia no seio da Família Real. No final desse ano os infantes D. Fernando e D. Augusto adoecem com Febre Tifóide, acamados no Palácio das Necessidades, acabam por contagiar também o seu irmão o Rei D. Pedro V. A 6 de novembro o Rei moribundo, ouve o dobrar dos sinos pela morte do seu irmão de 15 anos, o infante D. Fernando.
Infante D. Fernando de Portugal
Infante D. Augusto de Portugal

Entretanto, os infantes D. Luís, futuro D. Luís I, e D. João, estavam em viagem, tinha ido levar a irmã, infanta D. Antónia para junto do marido na Bélica, voltaram rapidamente quando souberam das noticias. D. Luís foi recebido pelos dignitários, que dobrando o joelho, o trataram por "Majestade". O Rei, o seu irmão, D. Pedro V tinha falecido a 11 de novembro, ao mesmo soube da morte de D. Fernando, D. Augusto melhora, mas o D. João que tinha estado em viagem é contagiado e acaba por morrer a 27 de dezembro.
D. Luís I de Portugal
D. João de Portugal
D. Antónia de Portugal

Criam-se superstições, teorias e todas as vozes aconselham D. Luís a deixar o Palácio das Necessidades. D. Luís I muda-se por alguns meses para o Palácio de Paço de Arcos, enquanto se iniciam as obras de adaptação do Palácio da Ajuda.

Ao mesmo tempo, numa negociação apressada é escolhida uma princesa, Maria Pia de Saboia, filha do Rei de Itália Victor Emanuel II. Agora no centro das atenções o Palácio da Ajuda adquire a verdadeira dimensão de Paço Real, será a partir desse ano de 1861 e pela primeira vez na sua história, a Residência Régia.
Maria Pia de Saboia, Rainha de Portugal
D. Victor Emanuel II de Itália

Para receber o seu novo Monarca foram realizadas as obras indispensáveis na estrutura do edifício como telhados, madeiramentos, janelas. Foram grandes encomendas de tapetes, iluminações e móveis.

A Rainha Maria Pia, ao chegar à Ajuda em 1862, iniciou aquelas que foram as grandes alterações na decoração interior. Foram introduzidas novas regras de higiene, de conforto, de privacidade e de individualidade dos espaços, características da mentalidade burguesa do século XIX.

A decoração, embora fosse gerida quase ao total gosto da Rainha, era organizada e executada pelo arquiteto Joaquim Possidónio Narciso da Silva, cujos princípios que regem a sua decoração e as transformações por si operadas conseguiram ser muito ao gosto de Maria Pia.
Arquiteto Joaquim Possidónio Narciso da Silva

D. Maria Pia manda construir uma capela, assinada pelo arquiteto modernista Miguel Ventura Terra . Na capela encontram-se várias pinturas como a Virgem e o Menino do pintor José Veloso Salgado que está no altar e o único El Greco em Portugal.
Arquiteto Miguel Ventura Terra

A Ajuda é dos poucos Palácios Reais que mostra o lado familiar tão marcado, ao ponte de ser ele mesmo espelhado dessa relação.
Sala Azul do Palácio Nacional da Ajuda
Sala Verde do Palácio Nacional da Ajuda

O mobiliário tinha várias origens. Parte era proveniente das reservas dos Paços Reais e do Tesouro. Outra parte foi sendo adquirida às inúmeras casas portuguesas e estrangeiras da especialidade, sendo D. Maria Pia uma célebre impulsionadora e utilizadora da compra por catálogo, novidade na época. Os restantes elementos, seriam presentes de diferentes Casas Régias, assim como o enxoval trazido de Itália por D. Maria Pia.

O Palácio da Ajuda tornou-se simultaneamente cenário das festas de grande gala, banquetes e receções oficiais, bem como de acontecimentos ligados ao quotidiano da Família Real, concertos de música de Câmara, serões animados por diversos artistas, partidas de jogo de bilhar, wist e o Loto. D. Maria Pia pedia muitas vezes a D. Luís a Sala de Despacho para organizar o Natal e o Carnaval.

Neste Palácio nasceram os príncipes D. Carlos e D. Afonso, ficando a sua infância ligada ao mesmo.
O Reinado de D. Luís decorreu sob um momento de paz, de estabilidade, de progresso, distinguindo-se o Rei pela sua isenção política, tolerância e respeito pelas várias correntes partidárias.

D. Carlos de Portugal
D. Afonso de Portugal

D. Luís era amante de todas as Artes. Destaca-se a criação, com a ajuda do seu pai D. Fernando, da Galeria de Pintura na ala Norte do Palácio da Ajuda onde é reunida grande parte da coleção real que, abrindo ao público em 1869, acaba por encerrar em 1875.

Depois da morte de D. Luís em 1889, é D. Carlos, o seu filho que ocupa o trono ao lado da Rainha D. Amélia. Por esta altura, viviam em Belém com os seus filhos, o Príncipe Real D. Luís Filipe e o Infante D. Manuel. O Palácio da Ajuda passa novamente para segundo Plano. Fica a habitá-lo a Rainha-Mãe, D. Maria Pia, e o seu filho o Infante D. Afonso. Sendo reservadas dentro do Palácio, algumas salas do andar nobre para as cerimónias oficiais do novo reinado.
Rainha D. Amélia de Portugal
Príncipe Real D. Luís Filipe de Portugal
D. Mauel II de Portugal

A 1 de fevereiro de 1908 é assassinado o Rei e Príncipe herdeiro D. Luís Filipe. Sobe ao trono D. Manuel II, que reside nas Necessidades continuando o Paço da Ajuda reservado para cerimónias de Estado. D. Maria Pia saiu do Palácio até outubro de 1910, data em que toda a Família Real saiu de Portugal na sequência da instauração da República.
Ilustração do regicídio de 1 de fevereiro de 1908, onde morreu o Rei D. Carlos e o Príncipe Herdeiro D. Luís Filipe 

Nos primeiros anos de República o Palácio é encerrado, mas a preocupação da República com o património ali guardado foi grande e todos os bens dos paços reais foram cuidadosamente inventariados. Numa segunda fase grande parte dos Paços Reais foi quase totalmente esvaziada e os seus recheios armazenados no Palácio da Ajuda.

Como casa-mãe das coleções Reais o Palácio reabre em 1938 como Museu. Em 1954 é inaugurada a Casa Forte onde é exposta a coleção das jóias e pratas da Coroa. Como o Palácio continuava inacabado, nos anos 1940 Raul Lino é por duas vezes encarregado de projetar o remate do edifício, nenhum destes projetos foi realizado.

Em 1974, de 23 para 24 de setembro, um grande incêndio destrói a Galeria de Pintura de D. Luís e parte da ala norte. Segundo relatos da imprensa, neste incêndio teriam sido destruídas grande parte das obras de arte ali existentes, num número aproximado de 500 quadros.

Antigo Palácio Real, é hoje em grande parte um museu, estando instalados no restante edifício a Biblioteca Nacional da Ajuda, o Ministério da Cultura, e o Instituto dos Museus e da Consevação.

O Palácio e o Museu são geridos pelos Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico e pela Presidência da República.

Mary Sweet

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